domingo, 4 de setembro de 2011

Uma breve história da Igreja Católica - Parte 4



O reino da Itália foi unificado na década de 1870. A cidade de Roma foi o último baluarte da resistência papal, mas caiu sob os rebeldes que lutavam pela causa do rei. A base legal que sustentava a existência dos Estados Pontifícios estava em um documento conhecido como a “Doação de Constantino” e que legava o Império Romano ao Papa. Tudo, obviamente não passava de uma fraude medieval. Pio IX, entretanto, se dizia cativo do rei da Itália em sua própria casa, e nunca aceitou fazer qualquer tipo de acordo com seu governo que pudesse legitimar a tomada da Cidade Eterna.

O Século XIX trazia um progresso sem precedentes para o mundo. A formação das grandes potências imperialistas européias, a disseminação da revolução industrial e o advento da ciência moderna moldavam um mundo cada vez mais centrado na razão. A fé e a religião como guias da humanidade não mais fazia sentido. A Igreja romana experimentava uma época de crise e esvaziamento. O Papado já não podia ditar regras ao mundo e estava cada vez mais legado ao ostracismo político. Isso ficou muito claro, quando ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Igreja não foi ouvida nas negociações de paz.

As finanças da Igreja na virada do século XIX para o XX também não se sustentavam. O Papa vivia em petição de miséria, cercado de palácios e igrejas em ruínas. Mas com a ascensão de Mussolini ao poder na Itália, e o Tratado de Latrão em 1929, a Igreja pôde reaver um pouco de sua glória. A região do Vaticano foi transformada em um Estado soberano dentro dos limites de Roma. Mussolini também deu uma excelente compensação financeira pelos territórios tomados dos antigos Estados Pontifícios, e privilégios de extraterritorialidade para Castel Gandolfo e as três Basílicas maiores de Roma.

Apesar de sua perda de “funções” na sociedade, havia algo defendido pela Igreja desde tempos imemoriais que se mantinha firme: a perseguição aos judeus e a sua transformação em cidadãos de segunda classe. Essa postura seria levada ao extremo com o nazismo e a solução final para os judeus na Alemanha, o Holocausto (fruto do Darwinismo social muito incentivado à época). O extremismo do Füher alemão iria ao final levar as pessoas a esquecerem que atitudes parecidas haviam sido perpetradas pela Igreja de Roma e boa parte do mundo ocidental durante séculos. Um excelente “bode expiatório” havia sido criado.

Sobre os rumos da guerra, a atitude extremamente neutra de Pio XII não seria esquecida. Ele ficaria conhecido posteriormente como “O Papa de Hitler”, título talvez injusto, já que o Papa ajudou centenas de judeus a escapar da morte nas mãos nazistas. O silêncio da Santa Sé indiscutivelmente foi a melhor escolha racional, mas moralmente um grande erro. Afinal, como representante de Deus na Terra, o Papa tinha obrigação de condenar o regime Nazista, independente do que viesse a acontecer a ele e a Igreja.

Mas a guerra acabou, o Papa morreu e a Igreja, após séculos de poucas mudanças, realizou o Concílio Vaticano II, com o objetivo de adaptar-se ao mundo moderno. Muitos avanços se consolidaram e o Papado readquiriu importância. João Paulo II, com sua imensa popularidade, ajudou os poloneses a destruir a ditadura soviética. Ele também tornou a Igreja mais humana e mais presente e incentivou grupos católicos em diversas partes do mundo. Em contrapartida também perseguiu e condenou alguns outros, como os ligados a teologia da libertação. No fim das contas, sua morte em 2005 foi um choque para o mundo cristão.

Choque ainda maior tem sido os escândalos sexuais que têm abalado a fé na Igreja. Clérigos, padres, bispos. Centenas de acusações contra eles surgem todos os anos, transformando esses fatos em uma grande vergonha para a Santa Sé. Ainda que o Papa atual, Bento XVI, tenha sido acusado de fechar os olhos a esses fatos; que continue condenando o aborto, o uso da camisinha e a homossexualidade; a Igreja, parece que a seu modo, conseguirá sobreviver. O caminho para essa sobrevivência estão bem definidas nas palavras do Santo Padre, "Uma igreja menor, porém unida". 


E mesmo que 1.700 anos tenham se passado desde sua institucionalização e 2.000 desde a morte do sábio carpinteiro; mesmo que uma chuva de intempéries a tenha acompanhado no decorrer da história; ela ainda assim conseguiu sobreviver. É hoje, de fato, a única instituição a permanecer de pé desde a Antiguidade. Não seria injusto, portanto, admitir que seu pensamento retrógrado possa vir justamente disso.

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

Uma história de Deus - Karen Armstrong;
Declínio e queda do Império Romano - Edward Gibbon;
A queda de Constantinopla - Steven Runciman;
Basílica de São Pedro - Esplendor e escândalo na construção da catedral do Vaticano - R.A. Scotti
A história secreta dos Papas - Brenda Ralph Lewis;

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