domingo, 18 de julho de 2010

As mil e uma noites


Desde criança sempre ouvi falar sobre as histórias das mil e uma noites, mas nunca tive a oportunidade de ter acesso à obra em si. Há alguns anos, soube que haveria um relançamento em português, apresentado por Malba Tahan, e me interessei para comprar, mas como na época não tive a oportunidade de encontrá-la, fiquei apenas na vontade.

Eis que depois de uns cinco anos de espera, finalmente encontrei os dois volumes disponíveis e por um preço bem acessível. Desde então tenho me maravilhado com Sherazade, suas belas histórias, e o encanto do Sultão Shahriar pela bela e inteligente Sultana.

A história começa com a vida de dois irmãos Sultões, que após serem traídos por suas esposas resolvem fugir dos seus reinos. Ao ver que não apenas ambos sofrem por amor e traições dispõem-se a voltar aos seus países de origem e optam por um estilo de vida diferente. O mais rico dos dois, Shahriar, toma a decisão de casar todos os dias e matar a própria esposa na manhã seguinte.

Uma grande onda de terror impera então por todo o seu reino, e Sherazade, filha do Grão-Vizir da corte, apaixonada e comprometida a acabar com o sofrimento de pais, mães e filhos, pede permissão a seu pai para casar-se com o Sultão. Após muita relutância do pai, que temia sua morte certa, consegue por fim seu intento e constrói um elaborado plano com sua irmã Dinazade para conquistar seu amor e findar com o suplício do povo: Todas as noites, antes do raiar do dia, Dinazade deve pedir a sua irmã para contar-lhe uma história, que astutamente não terá fim desde que Shahriar aceite que Sherazade sobreviva até a próxima noite, permitindo que a Sultana sobreviva indefinidamente.

O Clássico da literatura árabe traz as histórias mundialmente famosas de “Ali Babá e os quarenta ladrões”, “Aladim”, “Simbá” entre outras ainda mais belas e surpreendentes.

O livro baseado na versão de Antoine Galland, amplamente traduzida em todo mundo, conquistou fama e simpatia do Ocidente por ter escolhido as melhores e mais belas lendas da infinitamente reproduzida obra “Mil noites e uma noite” original.

Dica de leitura para qualquer hora, em qualquer lugar...

-- Thiago Amorim

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Juazeiro e o Padre Cícero


Este ano estive em Juazeiro acompanhado de minha mãe, meu irmão mais velho, minha avó e o meu padrasto. Nunca pensei em ir até lá em toda a minha vida, mas como não faria nada no fim de semana e fui convidado por minha mãe a viajarmos juntos, resolvi ir também. A viagem foi divertida, mas só agora resolvi escrever sobre o lugar, o Padre Cícero e a economia da região...

Reza a lenda popular que há mais de um século aconteceu uma coisa surpreendente em uma pequena e esquecida vila do Ceará. O pároco do lugar, ao preparar a hóstia para a eucaristia e servi-la a uma freira, assustou-se quando de repente aconteceu um suposto milagre: a hóstia transformou-se em sangue.


Os presentes que testemunharam o acontecimento espalharam a notícia rapidamente e, de pessoa em pessoa, em breve a notícia chegara ao Bispo, que então, resolveu enviar uma comissão investigativa sobre o caso. Enquanto a tal comissão não chegava, o “milagre” foi presenciado por outras pessoas, trazendo cada vez mais poder e fama ao padre da região, o padre Cícero Romão Batista.

Dotado de grande inteligência e astúcia, Cícero conquistou um grande séquito de seguidores chamados romeiros, que a cada ano se destinavam a cidade de Juazeiro para prestar-lhe homenagem e pagar penitência. A chegada da comissão e a alegação de que seus milagres eram fraude, não foram suficientes para deter o movimento que veio a se tornar uma das mais famosas tradições nordestinas. De diversos lugares ainda hoje, milhares de pessoas, todos os anos se dirigem a Juazeiro com o objetivo de pagar promessas e visitar a terra do “santo padre”.


Em alguns anos, Juazeiro se tornaria cidade, tendo o padre como primeiro prefeito. Seu poder tornou-se tamanho que a política do estado passou a ser ditada por si. Mesmo com a tentativa do governo de derrubá-lo, o povo o defendeu e o salvou do exército. Por esse tempo, Cícero já não era mais padre (o Vaticano o havia expulsado da igreja), mas seus seguidores não o abandonaram. O padre morreu em 1934 aos 90 anos de idade.

Após sua morte, os romeiros não deixaram de visitar Juazeiro, que se tornou uma espécie de “Jerusalém” do sertão, “a terra prometida” dos pobres nordestinos. Em todos os lugares da cidade encontram-se pessoas vendendo estatuetas, chapéus, bolsas, e até mesmo água com o nome do padre. A economia inteira é regida por seu nome. Existem diversas igrejas e alguns museus sobre Cícero. O engraçado é que quando estive em um deles me senti em “Asa Branca”, a cidade fictícia da novela “Roque Santeiro”, com as beatas contando a história do santo e o povo abobalhado acreditando em tudo o que lhes diziam. Eu e meu irmão demos boas gargalhadas comentando esse fato.


O museu, apesar de pobre, contém as relíquias do “santo”: roupas, obras literárias (muitas delas em francês) e a mobília de sua casa.

Passamos dois dias em Juazeiro, tempo suficiente para minha mãe e minha avó pagarem suas promessas, e então voltamos a Santana. Assim acabou nossa viagem.


Quanto ao fim da história do padre, ele conseguiu boa parte de seus desejos. A cidade prosperou e graças ao seu nome se tornou famosa em todo o país. O simples e pobre rapaz do interior do Ceará conseguiu o prodígio apenas destinado aos grandes homens da história: Tornou-se imortal, será lembrado para sempre.

O outro desejo é um pouco mais complicado. Apesar de haver hoje um movimento para que a Igreja o reconheça como Santo é pouco provável que isso aconteça num futuro próximo...

-- Thiago Amorim

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Julho

O mês de julho recebeu seu nome em homenagem ao Imperador romano Júlio César (o título não é original, pois o primeiro imperador, de fato, foi Augusto, seu sobrinho neto). Para quem não se lembra das aulas de história, uma das medidas tomadas durante o seu governo foi reorganizar o calendário romano. O mês correspondente se chamava “quintilis”, quinto mês do antigo calendário, que tinha o início do ano em março.

É um mês muito importante para a sociedade ocidental, pois marca eventos importantíssimos para a sua história. Temos a revolução e independência dos EUA no dia 04 de julho 1776, e a Revolução Francesa no dia 14 de julho de 1889, marcado pela tomada da Bastilha em Paris. Os resultados dessas duas revoluções foram a completa reestruturação geopolítica mundial, a tomada do poder pela burguesia e a queda da aristocracia como classe dominante. No dia 20 de julho de 1969 o homem pisou pela primeira vez na superfície da lua.

A nível local é o mês da Festa da Juventude em Santana do Ipanema, uma das festas mais conhecidas do estado, e também da festa de Santa Ana.

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

“A era das revoluções” – Hobsbawm;

“A origem de datas e festas” – Marcelo Duarte;

domingo, 6 de junho de 2010

O dia D




Os russos, com sua implacável máquina de guerra, obtinham vitórias gigantescas na frente leste e marchavam inexoravelmente rumo a capital alemã. O Terceiro Reich tinha muito pouco a fazer a respeito disso. Em breve, o conflito, que se arrastava desde 1939, teria seu prazo de validade vencido também na frente ocidental.

No dia 06 de junho de 1944, exatamente há 66 anos, uma reviravolta surpreendente na guerra faria os alemães perderem a pose e entregar-se aos aliados. As potências ocidentais, em especial os EUA, a Grã-Bretanha e os refugiados franceses, preparavam um ataque de proporções nunca antes visto na história. O episódio ficaria conhecido como o “Dia D”, levando até as praias da Normandia um contingente gigantesco de soldados, aviões, navios e tanques de guerra.

A partir dessa data, os países europeus no lado ocidental do continente, começariam a ser liberados do julgo nazista. De Gaule, o General francês, marcharia sobre o estado fantoche de Vichy (criado após a capitulação francesa em 1940) e libertaria completamente a França. Paris seria libertada em agosto de 1944. Em seguida seriam libertadas, a Bélgica e os Países Baixos (Holanda), levando a máquina aliada diretamente para a Alemanha, aonde com a chegada dos soviéticos a Berlim, viria a conclusão da guerra em 1945.

Apesar de ter garantido a queda definitiva de Hitler (que estando em situação periclitante precisou lutar em duas frentes mais uma vez) e ser lembrado como o maior evento da Segunda Guerra Mundial, a verdade é que o conflito já estava vencido pelos aliados desde a Batalha de Stalingrado, na URSS, em 1942-1943. Era apenas uma questão de tempo e a Alemanha capitularia. O maior legado, contudo, é ter freado o avanço do comunismo pelo continente Europeu, antecipando o evento que mais tarde ficaria conhecido como Guerra Fria.

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

História das guerras – Demétrio Magnoli

sábado, 5 de junho de 2010

Jerusalém






Há cerca de 5.000 anos os cananeus se instalaram na região do oriente médio e fundaram uma cidade que durante milênios iria interferir na história mundial: Jerusalém. A partir daí, uma série de guerras, tratados, negociações de paz e um imenso banho de sangue acompanhariam a história desse lugar.

A região da Judéia passou por diversas mãos. Os primeiros foram os cananeus, sendo seguidos pelos filisteus, jebusitas, hebreus, babilônicos, persas, macedônios, gregos, romanos, sassânidas, bizantinos, califados omíada, abássida e fatímida, seljúcidas, francos, mamelucos e por fim os turco-otomanos. Mas porque tanto sangue derramado pela posse de uma cidade?


A cidade de Jerusalém é importante espiritualmente para os Judeus desde a formação dos estados hebreus. Para o Ocidente ela passa a ser importante após a adoção do Cristianismo pelo Império Romano no século IV, e para os muçulmanos a partir do século VII através dos ensinamentos do profeta Maomé.

Segundo a tradição, o local havia sido escolhido pelo próprio Deus para que seu povo se instalasse e construísse o paraíso na terra. Abraão, o grande patriarca bíblico, teria se acomodado ali e vivido durante alguns anos. Posteriormente, havia saído da região rumo ao Egito devido a uma enorme seca. Apesar de inicialmente se dar bem com os egípcios, o povo hebreu acabou se tornando cativo deles, até que fosse libertado por Moisés alguns anos depois.


Começava aí o período descrito na Bíblia como o “Êxodo”, quando todo o “povo de Deus” viveu vários anos perdido no deserto em busca da terra prometida. Chegando ao destino final, se depararam com novos povos ali vivendo e após séculos de guerra conquistaram toda a região formando o reino unido de Israel e Judá, posteriormente dividido em dois reinos: Israel ao norte e Judá ao sul, ambos nem um pouco amistosos entre si.

O reino de Israel acabou sendo conquistado pelos assírios no século VII a.C. fazendo com que Judá sofresse as agruras do domínio estrangeiro em pouco tempo. Seria finalmente conquistado no século VI a.C. pelos babilônicos e após alguns anos todo o povo transformado em escravo. Apenas após as conquistas de Ciro, da Pérsia, e Alexandre, o Grande, da Macedônia eles retornariam às suas terras e voltariam a organizar um governo no reino de Judá. Apesar dessa autonomia, os governantes gregos manteriam controle sobre a região. Em 70 d.C. Jerusalém seria completamente arrasada por legiões romanas e o estado Judeu destruído. Seu povo se espalharia pelo mundo em um evento conhecido como “Diáspora”. A essa altura, os Hebreus já eram conhecidos como Judeus.

A cidade “santa” de Jerusalém sofreu durante a história 23 sítios, duas destruições completas, 52 ataques, e 44 conquistas e reconquistas. É atualmente responsável pelo conflito mais complicado e intricado no planeta. Os cristãos, após perderem-na com a queda do Reino de Jerusalém no século XIII, “desistiram” de lutar por ela e se concentraram em Roma. Os judeus a reivindicam para si e para o seu estado, os muçulmanos para os palestinos e o povo do islã. Apesar de haver tanta mágoa entre os dois lados, historicamente ambos eram unidos. Durante as cruzadas, judeus e muçulmanos lutaram lado a lado para defender a terra santa dos invasores cristãos.

O conflito atual, deriva da política surgida na era imperialista européia, quando um número cada vez maior de judeus começou a emigrar para a palestina. A essa época, a região fazia parte do Império Otomano e tinha maioria muçulmana.


Depois da Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Otomano, os árabes esperavam obter do governo britânico a formação de um estado para si pela ajuda que prestaram durante o conflito. Eles exigiam a diminuição do número de imigrantes judeus para a região, coisa que os ingleses não puderam fazer. Na verdade, os britânicos já haviam prometido aos judeus, embora de forma ambígua, a criação de um estado independente. Assim, diante do impasse, em 1923, a Inglaterra dividiu a região em duas zonas administrativas e manteve os judeus por lá. Os árabes não aceitaram a decisão, pois temiam perder espaço para os judeus. Nessa época começam os conflitos armados entre os dois povos e os primeiros homens-bomba aparecem.

A ascensão do Nazismo, e a perseguição européia aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, vão levar a criação do estado de Israel em 1948. Os árabes ficam inconformados com isso e vários países da região declaram guerra à nova nação. A guerra duraria quase dois anos, mas seria vencida por Israel que, dessa forma aumentaria suas terras. Outros conflitos acompanhariam ambos os lados até os dias atuais.

Um dos grandes entraves para um acordo de paz definitivo, é que Jerusalém é considerada por ambos sua capital e, portanto é indivisível. Além disso, a “cidade Santa” contém relíquias das três religiões mais importantes do mundo, que incluem a mesquita de Al-aqsa (e a cúpula da rocha), o Muro das Lamentações e a Basílica do Santo Sepulcro. Muçulmanos e cristãos compartilham da ideia de que Jesus foi um messias bíblico, mas os Judeus não. Outro ponto de conflito é que, segundo a tradição, onde hoje está o pátio das mesquitas (cúpula da rocha e Al-aqsa) localizava-se o templo de Salomão. Os judeus também defendem que o seu povo colonizou a região e fundou os estados de Israel e Judá antigos, mas os muçulmanos lembram que antes deles outros povos existiam e acreditam ser descendentes desses últimos.

Poucos lugares no mundo têm tanta importância para tanta gente. Jerusalém é o símbolo da fé para três religiões que convergem a um mesmo ponto: embora pareçam distantes em suas crenças, Cristãos, Muçulmanos e Judeus acreditam no mesmo Deus. Eles até compartilham os mesmos profetas (com a exceção de Jesus e Maomé).

Apesar de parecer insolúvel, talvez a solução do conflito seja mais simples do que se imagina. Quando todos perceberem que um único Deus, criou um único povo, Jerusalém finalmente transformar-se-á na verdadeira "Terra Santa”.

--Thiago Amorim

Para saber mais:

Jerusalém: Uma cidade, três religiões – Karen Armstrong;

História das cruzadas vol. I, II e II – Steven Runciman;

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Junho



O significado do nome do mês de junho pode ter duas definições. Pela primeira, homenageia a antiga Deusa Juno, esposa do Deus Júpiter e, portanto, rainha dos Deuses. Esta era considerada a protetora dos casamentos e do ciúme. A deusa equivalente na mitologia grega é Hera, esposa de Zeus.

Diz-se ainda que o nome Junho possa derivar de um antigo poema denominado “Fasti”. Nele o nome vem de “iunioris”, em latim significando “mais jovens”, em oposição a maio, que derivando de “maiores”, significa “anciãos”.

É um mês importante, pois é quando ocorre o solstício de verão no hemisfério norte. As festas pagãs desse evento, realizadas em diversos lugares da Europa, deram origem aos festejos juninos atuais, através do processo de aculturação feito pela Igreja Católica, para destruir e apagar a influência dos antigos deuses.

Não é de se estranhar, portanto, que os três santos católicos comemorados, Santo Antônio, São João e São Pedro, são padroeiros do casamento, das viúvas e dos “desesperados para casar”. 

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

A origem de datas e festas - Marcelo Duarte

terça-feira, 18 de maio de 2010

Maria - Porque ela é tão venerada pela Igreja Católica?

Hoje ela é uma das figuras mais conhecidas e comemoradas em todo o mundo. Um bilhão de católicos, um bilhão e meio de muçulmanos, um bilhão e cem milhões de cristãos em todo o nosso planeta a veneram como a mãe de Jesus Cristo. Isso significa que Maria é conhecida por mais da metade de todos os seres humanos.

Nos ritos e dogmas católicos, é considerada uma das figuras mais importantes do cristianismo e amplamente venerada como a mãe de Deus. Isso gera inúmeras controvérsias e conflitos com as demais religiões que reconhecem Jesus Cristo como profeta ou como Deus, já que estes consideram Maria uma figura respeitada, mas apenas uma humana, sem qualquer influência ou poder divino.

Mas as raízes de tanto interesse e veneração por parte da Igreja Católica Romana têm um lado obscuro e muito pouco conhecido.

Durante os difíceis anos do início do cristianismo, seus adeptos eram frequentemente perseguidos e assassinados. Isso aconteceu com quase todos os apóstolos inclusive Pedro, o primeiro Papa católico (a exceção foi João que morreu de velhice). Mas com o passar dos anos e o crescimento dos adeptos de Jesus, Roma, a grande potência da época, passou a interessar-se pelo cristianismo e em alguns anos não apenas permitiu, mas também o instituiu como religião oficial do Império.

Então de perseguidos, os cristãos passaram a ser os perseguidores (coisa que não mudou muito até os dias de hoje) e, para conseguir fincar-se cada vez mais profundamente na sociedade romana, começaram a adaptar seus festejos às datas de festas pagãs celebradas em Roma. Assim o Natal foi estabelecido no fim do ano, para coincidir com a festa do solstício de inverno, muito popular na época. A Páscoa, apesar de relembrar a morte e ressurreição de Jesus, adaptou outra data festejada na primavera em comemoração a “Eostre” deusa da primavera e do renascimento. A igreja adaptou até mesmo os ovos e coelhos usados nesse evento.

Mas existia uma Deusa que não conseguia ser apagada, que o cristianismo não conseguia destruir ou acomodar uma comemoração para ela. A deusa em questão era Diana, ou Ártemis, que atraía um enorme número de seguidores e amplas doações de todos os lugares do mundo conhecido.

A solução encontrada, foi transformar Maria em uma “semi-deusa” e incorporá-la aos ritos e dogmas cristãos. O lugar onde o mais famoso dos templos de Ártemis estava localizado em Éfeso foi transformado no lugar da morte* de Maria, que inclusive “coincidiu” com a época dos festejos da Deusa, nos idos de agosto.

A igreja então, durante a história, recheou o calendário com festas e eventos ligados a Maria, celebrando seu nascimento em setembro, sua morte em agosto e o mês de veneração em Maio. Nesse último caso para coincidir ainda com a primavera nos países do hemisfério norte, significando nascimento, pureza e a virgindade.

-- Thiago Amorim






*Para alguns setores do cristianismo Maria viveu em Éfeso, mas morreu em Jerusalém, estando sepultada nesta cidade.

A queda de Constantinopla


No dia 29 de maio de 1453 o Sultão Mehmet II adentrava as muralhas de Constantinopla, destruindo para sempre o Império Bizantino. A queda do grandioso império já era há muito anunciada e se arrastou por mais de 400 anos até que de fato acontecesse sob o julgo turco. Apesar da iminente catástrofe, a experiência mostrou-se tão traumática para os europeus, que marcou a história como o fim da Idade Média e início da Idade Moderna.

Mas apenas o trauma desencadeado pela perda de uma cidade no extremo oriente europeu  não evidenciam a importância do acontecimento. Os eventos desencadeados a partir do fim do Império Bizantino foram ainda mais longe: não tivesse aquele império sucumbido aos Otomanos, talvez a história da América (e sua invasão pelos europeus) seria outra. O mundo de hoje, onde cada um de nós vivemos, seria completamente diferente.

Constantinopla foi fundada por Constantino no século IV, no lugar onde ficava a cidade grega de Bizâncio, para ser a nova capital do Império. Cercada pelo mar de Mármara e incrustada na entrada do Estreito de Bósforo, tinha uma localização segura e privilegiada. Para o Imperador, a cidade se chamaria Nova Roma, mas o nome não vingou e em sua homenagem a cidade ficou conhecida como Constantinopla.

Durante os conturbados anos que se seguiram a morte de Constantino e o fim de Roma, Constantinopla despontou como o novo centro do mundo cristão e como defensora da cristandade no Oriente. Bizâncio seria “barreira natural” contra o inimigo "bárbaro", e assim foi durante muitos séculos até que o inimigo cresceu o suficiente para chegar às portas de sua capital.

Uma sucessão de fatores contribuiu para o enfraquecimento do Império, e talvez os maiores culpados sejam os próprios cristãos europeus. As raízes por trás do desmoronamento de Bizâncio remontam desde a questão das cruzadas até decisões tomadas ainda durante o século XI pelo Imperador Constantino Ducas. Este tomou a decisão de diminuir o efetivo militar do Império para garantir sua permanência no poder e solucionar problemas de ordem financeira. Muitos apontam essa posição de Constantino como o caminho para a bancarrota, enquanto outros defendem que apenas dessa forma o Império continuou a existir por quase meio milênio ainda.


Não devemos esquecer também, a famigerada escolha do Imperador João Cantacuzeno, em meados do século XIV, de pedir apoio aos turcos para a sua causa rumo ao trono de Constantinopla, liberando-lhes a passagem pelo Bósforo através de Gallipoli, e garantindo assim uma "ponta de lança" turca na Europa.

A questão das cruzadas é controversa, mas é inegável que após o saque de Constantinopla pelos cristãos, durante a quarta cruzada, Bizâncio jamais recuperou seu esplendor e força. O Império foi restaurado mas destituído de territórios imprescindíveis para sua sobrevivência, como a Anatólia, que passou para o domínio turco (a batalha de Manzikert em 1071, portanto antes das cruzadas, também teve papel crucial para a perda dessa região). 

Saqueada e despojada de seus tesouros no século XIII, Constantinopla era a capital de um Império em ruínas, rodeado pelos turcos e abandonada pelos exércitos cristãos. A cidade havia sido cercada 23 vezes durante a história, mas seus poderosos mecanismos de defesa e seu ponto estratégico na entrada do estreito de Bósforo a salvaram do fim.

Infelizmente dessa vez seus muros não seriam tão poderosos. O sultão Mehmet II dispunha de armas modernas para bombardear a cidade e um contingente gigantesco de soldados. A empreitada cuidadosamente preparada chegou à cidade no dia 2 de abril. Toda a população de Constantinopla estava aterrorizada, pois contava com cerca de oito mil defensores contra um exército de 200 mil homens.

Os turcos já vinham fazendo incursões em território bizantino desde o início do ano, arrasando cidades e conquistando fortalezas. O medo era um trunfo que o Sultão sabia como usar. Estava convencido que tomaria a cidade de qualquer maneira e a transformaria na capital do seu reino.

O cerco seguiu pelos meses de abril e maio. Os canhões turcos bombardeavam os muros constantemente, enquanto a população desesperada esperava por um milagre que a salvasse. Ainda havia a esperança que uma esquadra cristã surgisse no horizonte, repleta de soldados, com o tão necessário auxilio. A ajuda, jamais chegaria.

Profundamente religioso e místico, o povo de Constantinopla acreditava que Deus mandava sinais sobre o seu fim. Gigantescas tempestades, eclipses ou neblina seriam esses sinais. Coincidentemente no dia 25 de maio um evento ainda mais surpreendente aconteceu: Várias luzes foram vistas sobre a cidade e diante de olhos estarrecidos, grandes chamas envolveram o domo da Basílica de Santa Sofia; o fogo e as luzes intensas se uniram em um só facho de luz e ascendeu ao céu. Estava claro para todos que o fim era iminente.

Em 28 de maio o exército de Mehmet atacou a cidade com todo o seu contingente. Bombardearam os muros da cidade ininterruptamente de forma que os defensores não pudessem repará-lo. A seguir todo o exército acometeu, de forma que em todos os lugares ao redor dos muros houvessem homens forçando a entrada.  

Na manhã de 29 de maio por volta das seis da manhã, Constantinopla já era domínio turco. O último Imperador, Constantino XI, morreu durante a batalha encorajando seus homens a defender a cidade. O saque generalizado arrasou grande parte da área urbana e milhares de pessoas foram mortas ou violentadas. Homens, mulheres, crianças e idosos, todos sem distinção foram molestados.

Mehmet II, que a partir de então seria conhecido como Fatih, o conquistador, adentrou aos muros e dirigiu-se à Basílica de Santa Sofia. A seguir, ordenou que os saques cessassem imediatamente e garantiu que os cristãos poderiam manter seus cultos, mas perderiam a basílica, que foi transformada em mesquita. As famílias de Constantinopla foram escravizadas; vendidas em mercados diversos no mundo muçulmano. Algumas nobres foram libertadas e receberam dinheiro para manter a si e suas famílias.

E assim, 1123 anos depois de ser fundada por Constantino, o Grande, Constantinopla sucumbiu aos turco-otomanos e jamais voltaria às mãos cristãs. Bizâncio estava perdida para sempre.

Ao "mundo ocidental", estando as rotas comerciais Mediterrâneas e asiáticas em mãos muçulmanas, não havia mais um porto seguro no Oriente. Os negócios tornaram-se difíceis e novos caminhos precisaram ser buscados. Em poucas décadas o mundo entraria numa fase dinâmica e complexa sem precedentes: as grandes navegações, os nativos e o ouro da América; a ascensão de gigantescos impérios colonias. Tudo isso desencadeado pela perda do último suspiro do que um dia foi o grandioso Império Romano: Constantinopla!

Curiosidades:

*Na sequência, imagens de Mehmet II e de Constantino XI;

O Império Bizantino foi o que restou do Império Romano quando este colapsou no ano de 476 sob as invasões bárbaras;

O Sultão Mehmet II tinha apenas 21 anos quando conquistou a cidade;

Constantinopla tinha defesas fabulosas. Entre as mais poderosas estava a gigantesca corrente que bloqueava o "Corno de Ouro", e impedia que barcos atacassem a cidade por esse lado da península. Os turcos conseguiram burlar tal defesa, ao criar um caminho por terra para seus barcos, por trás da cidade genovesa de Pera, do outro lado do Corno de Ouro. Testemunhas dizem que foi como se "os barcos navegassem morro acima", alcançado o estuário e abrindo mais uma frente de ataque à cidade. 

Os eventos com luzes e fogo vistos na cidade nos últimos dias em que ainda era capital do Império Bizantino, foram causados pela erupção de um vulcão no Oceano Pacífico, o Kuwae, que provocou mudanças na atmosfera do planeta Terra. O acontecimento sobre a cúpula da Basílica se chama fogo-de-santelmo e ocorreu pelo teto da cúpula ser coberto de cobre;

Apesar de Mehmet II permitir o culto cristão na cidade, quase todas as igrejas foram destruídas em anos posteriores, inclusive uma das mais famosas, a dos Santos Apóstolos, onde os Imperadores e suas famílias eram enterrados;

Fundada em 11 de maio de 330 D.C. por Constantino, o Grande, Constantinopla foi perdida coincidentemente no mesmo mês 1123 anos e 18 dias depois, sob um governante de nome Constantino também;


Constantinopla é a atual Istambul, na Turquia.

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

1453: A Guerra Santa por Constantinopla e o confronto entre o Islã e o Ocidente – Roger Crowley

1453, a queda de Constantinopla – Steven Runciman;


História das cruzadas Vol. I, II e III – Steven Runciman;


sábado, 8 de maio de 2010

A Torre Eiffel

No dia 06 de maio de 1889, há mais de 120 anos, a Torre Eiffel era aberta ao público (foi inaugurada em 31 de março do mesmo ano). A estrutura foi construída para abrilhantar a Exposição Universal de Paris, e levou mais de dois anos para ser concluída (o dobro do tempo previsto).

A Exposição foi um marco da modernidade e deveria comemorar o centenário da Revolução Francesa (aquela em que os nobres perderam, literalmente, a cabeça). Ideologicamente mostrava o triunfo da burguesia em trazer a paz e a prosperidade ao mundo.

Durante os preparativos para o evento, foi aberto o concurso para que uma estrutura símbolo fosse construída no Champ-de-Mars; um sucesso imediato, recebendo mais de cem sugestões. Gustave Alexander Elffel não estava tentado a participar, até que dois de seus funcionários* demonstraram interesse. Percebendo o enorme destaque que teria caso construísse a torre, rapidamente passou a interessar-se e lançou-se no concurso.



Com o projeto aprovado, Eiffel teve que arcar com 80% dos custos da empreitada e enfrentou vários problemas durante a construção, como as greves de funcionários que o atormentaram diversas vezes.



Mas não foi apenas o fantasma da greve que o ameaçou; as pessoas, os artistas, todos odiaram a torre. Frequentemente se falava mal do projeto e do design “tosco” e “deselegante” do monólito de ferro. “La tour Eiffel” parecia estar fadada ao fim antes mesmo do começo.



Mas o projeto seguiu adiante e impressionou a todos quando ficou pronto, se tornando em poucos anos o símbolo de Paris e da França. Ela teria sido destruída em 1909 quando acabou a concessão do terreno no Champ-de-Mars para Eiffel (Eiffel teve o direito de ficar com a torre para si durante vinte anos, quando então seria doada para a cidade de Paris), mas sua utilidade para transmissão de ondas de rádio, além da presença marcante na silhueta da cidade a salvaram.

Hoje é a atração turística mais visitada do mundo. Tem 324 metros de altura, comporta museus, restaurantes, lojas e plataformas de observação. Mais de 250 milhões de pessoas já a visitaram desde a inauguração.

*Maurice Koechlin e Émile Nouguier foram os primeiros idealizadores da torre e venderam a patente para Eiffel posteriormente. Ambos eram funcionários da “Eiffel & Cie”.



Curiosidades:

Inicialmente ela se chamava “La tour de 300 mètres”;

A torre garantiu a aposentadoria confortável de Gustave Eiffel;

Hitler esteve na Torre Eiffel quando se apoderou da França durante a Segunda Guerra Mundial, mas não pode subir ao topo, pois os cabos dos elevadores foram cortados por patriotas franceses. Os elevadores só voltaram a funcionar quando a cidade foi libertada, próximo ao fim da guerra;

Os alemães hastearam uma enorme bandeira com a suástica no topo da torre, mas em poucas horas a mesma foi levada pelo vento;

Próximo ao fim da guerra, o Füher alemão ordenou que a torre e toda a cidade fossem destruídas, mas seu General, Dietrich Von Choltitz, não obedeceu, entregando a cidade praticamente ilesa a De Gaulle.  

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

Exposições Universais Espetáculos da Modernidade do Século XIX – Sandra Jatahy Pesavento;

Gustave Alexander Eiffel – Paco Asensio

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Maio

O Quinto mês do ano homenageia “Bona Dea”, Deusa romana da fertilidade (“Maya” na mitologia grega). Cabe lembrar aqui, que ainda estamos na primavera no hemisfério norte, e a Deusa da fertilidade está ligada ao florescer, como a deusa Aprilis do mês anterior, abril.

O mês de maio é dedicado a duas datas importantes (entre tantas outras, claro). A primeira delas é o dia do trabalho, oficialmente instituído no Brasil a partir de 1924 durante o governo de Artur Bernardes. A homenagem relembra as conquistas dos trabalhadores e os inúmeros desafios que enfrentaram para obtê-las.

A segunda data importante (principalmente para o comércio) é o dia das mães, comemorado no segundo domingo de maio. A ideia de homenagear as mães vem desde a Grécia, passando por Roma e invadindo a Idade média. Mas por incrível que pareça no mundo moderno, a data foi instituída não por tradição ou pressão comercial, e sim como homenagem a mãe de Anna M. Jarvis, americana, que entrou em depressão após a morte de sua genitora (é... o comércio se apoderou da data depois). No Brasil, a data foi oficializada em 1932, pelo então Presidente Getúlio Vargas.


Vale lembrar, que o mês também é considerado pela Igreja Católica Romana, como o relativo a Maria, mãe de Jesus. Tem uma história meio louca por trás disso, mas fica para outro post. 
Grande abraço!

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

A origem de datas e festas – Marcelo Duarte

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