O reino da Itália foi unificado
na década de 1870. A cidade de Roma foi o último baluarte da resistência papal,
mas caiu sob os rebeldes que lutavam pela causa do rei. A base legal que
sustentava a existência dos Estados Pontifícios estava em um documento
conhecido como a “Doação de Constantino” e que legava o Império Romano ao Papa.
Tudo, obviamente não passava de uma fraude medieval. Pio IX, entretanto, se
dizia cativo do rei da Itália em sua própria casa, e nunca aceitou fazer
qualquer tipo de acordo com seu governo que pudesse legitimar a tomada da
Cidade Eterna.
O Século XIX trazia um progresso
sem precedentes para o mundo. A formação das grandes potências imperialistas
européias, a disseminação da revolução industrial e o advento da ciência
moderna moldavam um mundo cada vez mais centrado na razão. A fé e a religião
como guias da humanidade não mais fazia sentido. A Igreja romana experimentava
uma época de crise e esvaziamento. O Papado já não podia ditar regras ao mundo
e estava cada vez mais legado ao ostracismo político. Isso ficou muito claro,
quando ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Igreja não foi ouvida nas
negociações de paz.
As finanças da Igreja na virada
do século XIX para o XX também não se sustentavam. O Papa vivia em petição de
miséria, cercado de palácios e igrejas em ruínas. Mas com a ascensão de
Mussolini ao poder na Itália, e o Tratado de Latrão em 1929, a Igreja pôde
reaver um pouco de sua glória. A região do Vaticano foi transformada em um
Estado soberano dentro dos limites de Roma. Mussolini também deu uma excelente
compensação financeira pelos territórios tomados dos antigos Estados
Pontifícios, e privilégios de extraterritorialidade para Castel Gandolfo e as
três Basílicas maiores de Roma.
Apesar de sua perda de “funções”
na sociedade, havia algo defendido pela Igreja desde tempos imemoriais que se
mantinha firme: a perseguição aos judeus e a sua transformação em cidadãos de
segunda classe. Essa postura seria levada ao extremo com o nazismo e a solução
final para os judeus na Alemanha, o Holocausto (fruto do Darwinismo social
muito incentivado à época). O extremismo do Füher alemão iria ao final levar as
pessoas a esquecerem que atitudes parecidas haviam sido perpetradas pela Igreja
de Roma e boa parte do mundo ocidental durante séculos. Um excelente “bode
expiatório” havia sido criado.
Sobre os rumos da guerra, a
atitude extremamente neutra de Pio XII não seria esquecida. Ele ficaria
conhecido posteriormente como “O Papa de Hitler”, título talvez injusto, já que
o Papa ajudou centenas de judeus a escapar da morte nas mãos nazistas. O
silêncio da Santa Sé indiscutivelmente foi a melhor escolha racional, mas
moralmente um grande erro. Afinal, como representante de Deus na Terra, o Papa
tinha obrigação de condenar o regime Nazista, independente do que viesse a
acontecer a ele e a Igreja.
Mas a guerra acabou, o Papa
morreu e a Igreja, após séculos de poucas mudanças, realizou o Concílio
Vaticano II, com o objetivo de adaptar-se ao mundo moderno. Muitos avanços se
consolidaram e o Papado readquiriu importância. João Paulo II, com sua imensa
popularidade, ajudou os poloneses a destruir a ditadura soviética. Ele também
tornou a Igreja mais humana e mais presente e incentivou grupos católicos em
diversas partes do mundo. Em contrapartida também perseguiu e condenou alguns
outros, como os ligados a teologia da libertação. No fim das contas, sua morte
em 2005 foi um choque para o mundo cristão.
Choque ainda maior tem sido os
escândalos sexuais que têm abalado a fé na Igreja. Clérigos, padres, bispos.
Centenas de acusações contra eles surgem todos os anos, transformando esses
fatos em uma grande vergonha para a Santa Sé. Ainda que o Papa atual, Bento XVI, tenha sido acusado de fechar os
olhos a esses fatos; que continue condenando o aborto, o uso da camisinha e a
homossexualidade; a Igreja, parece que a seu modo, conseguirá sobreviver. O caminho para essa sobrevivência estão bem definidas nas palavras do Santo Padre, "Uma igreja menor, porém unida".
E mesmo que 1.700 anos tenham se passado desde sua institucionalização e 2.000 desde a morte do sábio carpinteiro; mesmo que uma chuva de intempéries a tenha acompanhado no decorrer da história; ela ainda assim conseguiu sobreviver. É hoje, de fato, a única instituição a permanecer de pé desde a Antiguidade. Não seria injusto, portanto, admitir que seu pensamento retrógrado possa vir justamente disso.
E mesmo que 1.700 anos tenham se passado desde sua institucionalização e 2.000 desde a morte do sábio carpinteiro; mesmo que uma chuva de intempéries a tenha acompanhado no decorrer da história; ela ainda assim conseguiu sobreviver. É hoje, de fato, a única instituição a permanecer de pé desde a Antiguidade. Não seria injusto, portanto, admitir que seu pensamento retrógrado possa vir justamente disso.
-- Thiago Amorim
Para saber mais:
Uma história de Deus - Karen Armstrong;
Declínio e queda do Império Romano - Edward Gibbon;
A queda de Constantinopla - Steven Runciman;
Basílica de São Pedro - Esplendor e escândalo na construção da catedral do Vaticano - R.A. Scotti
Basílica de São Pedro - Esplendor e escândalo na construção da catedral do Vaticano - R.A. Scotti
A história secreta dos Papas - Brenda Ralph Lewis;