Mostrando postagens com marcador Lugares. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lugares. Mostrar todas as postagens

domingo, 15 de julho de 2012

A Basílica de São Marcos


Basílica de São Marcos - Vista da praça


Localizada no centro da cidade de Veneza, ao lado do Palácio dos Doges e da famosíssima Praça de São Marcos, a Basílica é talvez a mais oriental das igrejas do Ocidente. Durante séculos simbolizou a estabilidade e a grandeza da Sereníssima República de Veneza, ostentando joias preciosas e fabulosos tesouros. Sua planta em estilo bizantino baseou-se abertamente na famosa e lendária Igreja dos Santos Apóstolos de Constantinopla, com seu formato de cruz grega, encimado por cinco cúpulas grandiosas.

Com cerca de 1.200 anos é uma das igrejas mais antigas ainda de pé no mundo. Sua construção iniciou-se no fim do século IX e, após algumas revoltas e destruições, perdurou por todo o tempo em que a República de Veneza era importante, ou seja, pelos próximos setecentos anos. A cada contato com uma terra distante, os mercadores venezianos traziam artefatos para presentear a igreja, tornando-a incrivelmente rica.

Planta Baixa da Basílica
A coleção de tesouros da basílica é curiosa, e em alguns casos duvidosa. Tudo foi garimpado através das conquistas da república veneziana em terras distantes, com guerras de extermínio e exploração dos lugares atacados. Os cavalos que decoram a fachada da Basílica, por exemplo, vieram do antigo hipódromo de Constantinopla, cidade esta despojada dos seus magníficos tesouros da Antiguidade pela ambição do Doge de Veneza durante a quarta cruzada.

As relíquias de São Marcos, que deram o nome a Basílica, também têm uma história interessante. Foram encontradas coincidentemente pouco tempo depois do desaparecimento dos restos mortais do túmulo de Alexandre, o Grande, em Alexandria no Egito. Para alguns, as relíquias pertencem ao famoso general Macedônico, enquanto para outros pertencem de fato ao Santo.

A igreja é completamente decorada com mármores de vários tipos, e dos mais diversos lugares. Também há uma fabulosa coleção de mosaicos bizantinos, todos esplendorosamente recheados de generosas quantidades de ouro. E não se deve esquecer o incrivelmente belo e fabuloso “Pala D’Oro”, um retábulo feito por ourives constantinopolitanos no século X e ricamente decorado em ouro, metais e gemas preciosas, como rubis, safiras e esmeraldas. Entre as relíquias ainda há o “Ícone da Mãe de Deus de Nikopeya”, roubada de Constantinopla no século XIII, e que figura entre os mais importantes artefatos religiosos presentes na Basílica.

Estátua de São Marcos - Fachada da Basílica
As cúpulas de madeira revestidas com placas de cobre que exibe atualmente foram anexadas num período tardio, para aproximar-se do gótico do Palácio dos Doges, o que explica porque no interior do edifício a igreja tem cúpulas achatadas, lembrando pires, e na parte exterior, cúpulas tão altas e afuniladas. Tanto o interior quanto o exterior são recheados de estátuas de santos e mártires da Igreja Católica.

O famoso campanário, construído diante da Basílica, faz parte do seu conjunto arquitetônico e é uma réplica de mesmas proporções de um mais antigo, destruído em 1902. A reconstrução demorou dez anos, tendo sido o edifício consagrado em 1912 por ocasião da festa de São Marcos.

Nikopeya - Ícone


Mas o triunfo dos venezianos não duraria para sempre. Com o fim do Império Bizantino e o descobrimento da América, seus comerciantes perderiam o lucrativo comércios com a Ásia, e a república entraria em ampla decadência. Quando Napoleão conquistou a Europa, Veneza caiu em suas mãos e foi despojada de seus tesouros. Agora tudo indicava que a gulosa república pagaria seus pecados do passado na mesma moeda.
O destino, entretanto, não seria tão traiçoeiro. Após a queda do egocêntrico Imperador francês, ela seria ressarcida pelos seus prejuízos, mas economicamente continuaria arruinada. Ainda assim, os erros do passado acabaram se mostrando um acerto para o presente: a coleção de tesouros da cidade, aliada a toda a história do lugar, a salvou da derrocada financeira através do turismo moderno.

Com uma história cheia de roubos e saques, cujo Império Bizantino foi sua maior vítima, a Basílica de São Marcos, e a própria cidade de Veneza, na verdade tornaram-se uma importante lembrança daquela sociedade. Quando Constantinopla caiu no século XV, suas instituições foram desmanteladas pelo Império Otomano e várias joias arquitetônicas e culturais perdidas. Não fosse a “guarda” dos artefatos pelos venezianos, muito mais coisas teriam se perdido para sempre. O que nos mostra mais uma vez os irônicos caprichos da história.

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Muralha da China


O grande desenvolvimento da China dos dias atuais chama atenção em várias partes do mundo. Gigantescas metrópoles surgem em ritmo assustador por todo o país, e uma série desenfreada de construções entre estradas, pontes e aeroportos, parecem brotar do chão como num passe de mágica. Mas mesmo com tantas novidades há algo que ainda é a “cara” da China, que é sinônimo do poderoso país asiático. Trata-se da milenar muralha da China: uma obra tão complexa e colossal, que deixaria qualquer Faraó egípcio com inveja. 

A estrutura estende-se por milhares e milhares de quilômetros, serpenteando entre montes e vales estreitos; desafiando gigantescos precipícios. Em alguns pontos está assentada em terreno tão irregular e inacessível que é difícil para os visitantes acreditarem no que estão vendo. Essa complexa estrutura defensiva foi colocada ali há mais de dois mil anos, com a função de barrar as tribos bárbaras do norte da Ásia, em especial os mongóis, que ameaçavam os domínios do Imperador Chinês (e também para garantir a dominação por trás dos muros, é claro).

A dimensão exata da famosa muralha é até hoje desconhecida, mas é consenso entre os cientistas que deva se aproximar dos oito ou nove mil quilômetros de extensão. Ela atravessa uma área do atual “Centro-Norte” da China, estendendo-se de leste a oeste em sessões nem sempre contínuas. Os materiais construtivos divergem em muitas partes: enquanto em alguns lugares há uso em larga escala da pedra, em outros pontos apenas terra batida e madeira compõem os muros. A terra, apesar de parecer um frágil material, na verdade é muito resistente a ação do tempo devido à maneira que foi trabalhada.

Mas o exato momento em que as pedras, os tijolos e a areia foram assentados, ainda é motivo de discussão entre os estudiosos. Para alguns cientistas, as mais antigas dinastias chinesas estão por trás da construção, antes mesmo da unificação do país: as dinastias subsequentes teriam atuado apenas como ampliadoras e restauradoras da estrutura original. A estrutura, portanto, deve ter aproximadamente dois mil e quinhentos anos em alguns pontos, e apenas alguns séculos de idade em outros. Segundo a tradição, a muralha teria sido erigida sob as ordens do General Meng, que havia sido incumbido da tarefa pelo temível Imperador Qin Shi Huang-Di, fundador da dinastia Qin (lê-se Chin, e assim temos a origem do nome “China”), e considerado o Primeiro Imperador Chinês.

A muralha foi apenas uma das obras faraônicas do Imperador. Até que Qin tivesse unificado o Império, no século III A.C., a China era dividida em vários reinos que digladiavam entre si pelo poder supremo. O primeiro imperador não só os conquistou como ordenou que os nobres dos reinos fossem levados a morar perto de si, na Capital do império, em uma cidade construída especialmente para isso. 120 mil famílias nobres passaram a morar “juntas” do “dia para a noite”, e é claro, um enorme volume de palácios foi construído para tornar-se o lar dessas pessoas. Um relato das dimensões do seu palácio comprova isso, já que após a morte de Qin, e a queda de sua dinastia, diz-se que o palácio real permaneceu em chamas durante cinco dias ininterruptos! Uma verdadeira fogueira apocalíptica!

Se nos assustamos com o volume colossal das obras agitadas dos dias atuais na China, deveríamos imaginar o que os pobres camponeses explorados pelo Imperador devem ter pensado do volume gigantesco de trabalho e material empreendidos nos seus ambiciosos projetos.

Curiosamente, e lamentavelmente, uma última obra empreendida por Qin antes de sua morte foi a grande queima de livros, que destruiu milênios de história chinesa de uma só vez. Ele também perseguiu, matou e exilou diversos estudiosos e pensadores, algo um tanto parecido com atos do governo chinês atual. Talvez a China não tenha mudado tanto. A Muralha da China ainda é mesmo a “cara da China”.

-- Thiago Amorim


Para saber mais:


O Primeiro Imperador da China - Frances Wood

terça-feira, 15 de maio de 2012

Pietà


Adoro o Michelangelo e por isso faço pesquisas sobre sua vida e suas obras sempre que possível. Devido à sua personalidade egocêntrica e paranoica ele fez muitos inimigos em vida, mas também deixou uma legião de fãs incontestáveis por toda a história. Entre as mais famosas das suas empreitadas certamente estão a capela sistina e a construção da Basílica de São Pedro em Roma (na qual obteve ajuda de diversos outros artistas). Para mim, entretanto, a Pietà é incontestavelmente o maior tesouro artístico legado por esse gênio renascentista à humanidade.

Abaixo, segue um breve relato sobre a obra. Divirtam-se!

Michelangelo era um jovem escultor de apenas 23 anos quando realizou essa incrível obra de arte. Com cerca de 1,70m de altura por 1,90m de largura, a Pietà é uma das mais famosas estátuas em mármore carrara do mundo, e provavelmente a mais valiosa entre todas elas.

Foi encomendada em 1498, pelo cardeal francês Jean de Billheres, para a capela dos reis da França, na antiga Basílica de São Pedro, em Roma. Quando ficou pronta chamou a atenção de todos que a viam, e tornou-se rapidamente uma das obras mais aclamadas e copiadas no mundo.

Finalizada em 1499, mostra uma jovem virgem Maria segurando o Cristo morto em seus braços. As dimensões entre ambos são intencionalmente distorcidas, de forma que a sensação de sofrimento e perda da virgem, junto à fraqueza do Deus recentemente morto, seja enaltecida diante dos olhos dos observadores. O artista também a deixou mais jovem, pois dizia que “aqueles que têm fé jamais envelhecem”.

A estátua é uma das mais bem executadas em toda a história. Tamanhos foram a acurácia e talento empreendidos no trabalho, que as unhas e, até mesmo, as artérias das figuras são percebidas pelos observadores.

A Pietà já foi reposicionada na Basílica diversas vezes, devido à reconstrução de São Pedro no século XVI. Hoje está disposta na primeira capela do lado direito da igreja, protegida por um enorme painel à prova de balas. Tal radicalismo na proteção da estátua, explica-se pelo incidente ocorrido na década de 1970, quando um louco avançou sobre o objeto e o golpeou com um martelo, danificando-lhe o rosto, o braço, os dedos e a cabeça. Apesar de esse ser o mais famoso e fatídico acidente envolvendo-a, não foi o único, tendo sido a estátua danificada e restaurada em anos anteriores.

Ela é a única obra de arte assinada por Michelangelo, e considerada um dos seus melhores trabalhos. A beleza e qualidade da peça evidenciam a técnica e majestade das inúmeras realizações artísticas do famoso escultor, arquiteto, poeta e pintor renascentista.

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- A estátua é feita completamente em mármore carrara, mas foi tão bem polida e trabalhada que sua aparência assemelha-se ao marfim;

- Várias partes da estátua foram perdidas com os danos sofridos no ataque de 1972. Seu nariz nunca foi recuperado, e os restauradores tiveram de dar-lhe um novo, utilizando o mesmo mármore do qual ela foi feita;

- A restauração da década de 1970 foi realizada pelo brasileiro Deoclécio Redig de Campos, um paraense que era chefe de laboratório de restauração, e diretor dos Museus Vaticanos;

- Laszlo Toth nunca foi responsabilizado criminalmente pelo ataque à estátua, mas ficou alguns anos preso em uma clínica psiquiátrica. Ele hoje vive na Austrália;
- As assinaturas em obras de arte não eram comuns no Renascimento, e Michelangelo só assinou o trabalho por medo de não ser reconhecido em anos posteriores;
- A Pietà é única obra assinada pelo neurótico artista;
Para saber mais:
- Michelangelo e o Teto do Papa  - Ross King
- Michelangelo - Nadine Sautel

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Igreja dos Santos Apóstolos


Construída na nova Capital do Império Romano, por Constantino, o Grande, a Igreja dos Santos Apóstolos ficou conhecida em sua época como uma das mais belas construções religiosas do mundo cristão. Ricamente decorada com diversos tipos de mármores, gemas preciosas, grandes quantidades de prata e um fabuloso teto de ouro, somente a Basílica Hagia Sophia lhe fazia sombra em fama e importância.

Essa coexistência com a basílica gigante, que a história faria com que a obscurecesse, não tirava os louros ou glórias do famoso edifício. A Igreja dos Santos Apóstolos era muito mais visitada, pois estava localizada no “centro novo” de Constantinopla, próxima aos locais de comércio e passagem de estrangeiros, fiéis e visitantes de todos os lugares da Europa, Ásia e África. A fama era justa. Nesse templo ficavam localizados os túmulos e mausoléus dos imperadores bizantinos desde Constantino, e também as relíquias de santos e mártires da igreja Ortodoxa.
Reprodução em computação gráfica da possível forma da Igreja dos Santos Apóstolos,
 por volta do século XII . Apesar de ter sido construída em forma de cruz grega,
o braço oriental da igreja foi alongado, para abrir espaço para um átrio
Quando construída, “Santos Apóstolos”, como o nome sugere, tinha o objetivo de guardar as relíquias de todos os apóstolos e discípulos de Cristo. Após anos e anos de buscas, somente as relíquias de Santo André, São Lucas e São Timóteo foram adquiridas, e a igreja acabou sendo dedicada apenas aos três. Sua construção iniciou-se por volta do ano 330 D.C., supostamente por Constantino, mas foi a reconstrução feita por Justiniano ou Teodora, e consagrada na véspera do dia de São Pedro de 550 D.C. que a tornou tão famosa e importante.

Possível Planta Baixa da
Igreja dos Santos Apóstolos
Suas formas são pouco conhecidas. Ainda assim, documentos do século XI e XII a descrevem como uma basílica em forma de cruz grega, projetada pelos mesmos arquitetos de Hagia Sophia. Os quatro braços da cruz eram adornados com cúpulas imensas, tendo sido incorporada mais uma ao transepto da igreja, de forma a tornar o conjunto mais harmonioso. Seus tesouros eram colossais, já que grandes quantidades de peregrinos a visitavam todos os anos. Tanta fama e riqueza certamente atraíam olhos cobiçosos por toda a Europa, e o povo de Constantinopla temia qualquer movimentação militar rumo à sua rica cidade.

Infelizmente, em 1204, o saque de Constantinopla confirmou os temerosos presságios dos místicos habitantes de Constantinopla. A cidade foi arrasada e a igreja completamente saqueada. Até mesmo os túmulos dos reis foram revirados; Joias e tesouros inestimáveis ali contidos seriam roubados e levados para portos cristãos na Itália. Segundo relatos de testemunhas, a coroa do Imperador Heráclio foi arrancada de sua cabeça com os cabelos do defunto ainda grudados nela. Seguiu-se então um período obscuro no Império Bizantino, cujo controle estava em mãos ocidentais. Esse período durou quase 60 anos, até que o império fosse restaurado.

No início do século XIV a basílica foi mais uma vez reformada e por um breve período de tempo vislumbrou-se um pouco do seu glorioso passado. Com o enfraquecimento de Bizâncio e a inevitável queda do Império, ela sucateou-se novamente. Quando os turcos invadiram e tomaram a cidade, a igreja estava praticamente em ruínas. Ela passou a ser a sede do Patriarcado Ortodoxo por alguns anos, mas foi destruída pelos Otomanos em anos posteriores para dar lugar à mesquita Fatih (mesquita do conquistador, em honra à Memeth II, o Sultão responsável pela queda de Constantinopla).

Hoje nada resta da famosa Igreja de Constantinopla. Os povos que a visitaram, há muito desapareceram e o próprio império deixou de existir. “Santos Apóstolos”, mais que Hagia Sophia (convertida à força ao culto muçulmano), evidencia a agonia e a derrocada de um império milenar. Os muros foram postos abaixo; um novo mundo erguido em seu lugar.

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

As fontes asseguram que a Basílica de São Marcos, em Veneza, tem seu desenho inspirado na Igreja dos Santos Apóstolos, o que nos mostra como a construção deve ter sido realmente fabulosa;

Alguns dos tesouros de “São Marcos” pertenciam antes à famosa igreja constantinopolitana;

“Santos Apóstolos” era a segunda igreja mais importante para os cristãos ortodoxos, algo como a basílica de São Pedro é hoje para os católicos do mundo todo;


Link do projeto Byzantium 1200, onde pode-se ver mais imagens em computação gráfica da famosa igreja:  http://www.arkeo3d.com/byzantium1200/apostles.html

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Basílica Hagia Sophia


Basílica Hagia Sophia em Istambul
Construída no centro político e cultural do império bizantino, a basílica Hagia Sophia foi durante mil anos o maior templo religioso do mundo cristão. Suas formas eram tão grandiosas e sublimes que, antes mesmo da queda de Constantinopla e o triunfo do império Turco-Otomano, já influenciava a arquitetura islâmica, tendo sido adotada por esta última como modelo para as mesquitas em diversos lugares da Europa, da Ásia e da África.

Durante o reinado de Constantino, quando Roma ainda era um Império só, a cidade de Constantinopla foi fundada e ganhou uma basílica Imperial, a de Santa Sofia. Ela foi destruída devido a revolta popular que se seguiu ao afastamento do patriarca João Crisóstomo e reconstruída em 415. Sob o reinado de Justiniano, em 532, a igreja foi destruída mais uma vez na famosa revolta de Nika, e uma nova reconstruída no local. Essa nova construção é a mesma que vemos nos dias atuais, após incríveis 1475 anos!
A obra foi encomendada pelo Imperador Justiniano I que exigia um edifício tão grandioso quanto os cofres do Império pudessem pagar. Os responsáveis por seu projeto e execução foram os gregos Isidoro de Mileto, que era médico, e Antêmio de Trales, um matemático. Os dois analisaram cuidadosamente as melhores formas a ser empregadas na nova estrutura e concordaram com a ideia de uma cúpula gigantesca assentada sobre três naves igualmente grandiosas.

Os trabalhos seguiram por cinco anos ininterruptos, utilizando os melhores materiais disponíveis. A pressa na construção, entretanto, trouxe problemas logísticos e partes do projeto foram modificadas para se adequar a esses contratempos. Além disso, os cálculos para a resistência da cúpula não foram bem executados e sérios problemas estruturais comprometeram diversos pontos da basílica em anos posteriores. A solução encontrada para manter a basílica de pé, está nos contrafortes gigantescos que podem ser vistos atualmente no lado exterior do edifício.

Com tudo pronto, os Imperadores Justiniano e Teodora inauguraram a gigantesca estrutura. Ela havia sido ricamente decorada com enormes quantidades de ouro em motivos florais e imagens de santos, mas evitou-se a utilização de ícones escultóricos, devido às inconsistências nos dogmas da igreja sobre a veneração de tais artefatos.

A basílica impressionou a todos desde a sua construção, e mesmo que por duas vezes a cúpula tenha desabado e precisado ser refeita, o edifício que se encontra hoje em Istambul é o mesmo utilizado por Justiniano e sua corte na consagração dois dias após o natal de 537.
Reconstituição da Basílica em três fases: A primeira erigida por Constantino,
a segunda inaugurada em 537 e a última, e atual,
com o novo domo após o colapso de 557
Após quase mil anos servindo como templo cristão ortodoxo*, os turcos conquistaram a cidade e converteram a igreja em mesquita. Os mosaicos e imagens floridos de santos e mártires foram cobertos por espessas camadas de cal. Quatro gigantescos minaretes foram erigidos e o credo ortodoxo silenciado para sempre. Pelos próximos quinhentos anos, diversas mesquitas seriam construídas na cidade, tendo como inspiração a grandiosa basílica. Hoje ela é um museu em Istambul, na Turquia, antiga Constantinopla, e continua encantando peregrinos e visitantes de todas as partes do mundo.

Grande Abraço!

-- Thiago Amorim

* Após o saque de Constantinopla, em 1204, pelos cruzados, a Basílica foi consagrada como templo católico romano, e assim permaneceu até 1261, quando a cidade foi reconquistada pelos bizantinos e a igreja “reconvertida” para o credo ortodoxo.

Para saber mais:

A queda de Constantinopla - Steven Runciman
1453: A guerra Santa por Constantinopla e o confronto entre o Islã e o Ocidente - Roger Crowley
Hagia Sophia recém restaurada
Link: http://www.arkeo3d.com/byzantium1200/hagia.html (Hagia Sophia- reconstituição pelo projeto Byzantium 1200)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As outras Brasílias


Há centenas de anos a ideia de haver uma mudança da capital do Brasil para o interior vinha sendo debatida. Após muito tempo de discussão e estudos, finalmente a mudança ocorreu sob o governo de Juscelino Kubistchek. O presidente lançou o concurso para o plano de construção da nova cidade e vários arquitetos e urbanistas propuseram soluções. O plano piloto criado por Lúcio Costa foi o vencedor, mas projetos idealizados por outros arquitetos e urbanistas também se destacaram pela qualidade e inventividade, tendo sido, entretanto, esquecidos; guardados da vista do público.

Assim, com o intuito de apresentar essas “outras Brasílias”, abaixo segue uma sequência de imagens de alguns dos “planos pilotos” que perderam o concurso.  








Aqui a formação de diversos núcleos urbanos,
lembra um pouco as "superquadras" criadas por Lúcio Costa,
mas em escala gigantesca
  


Nesse projeto, é possível ver facilmente a
formação da bandeira do Brasil ao centro



O diferencial desse projeto, está nas gigantescas torres
que teriam centenas de metros de altura
 



-- Thiago Amorim

Sobre a construção de Brasília: 

Para saber mais:




terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Estátua da Liberdade


Construída há quase 125 anos, a Estátua da Liberdade é certamente um dos monumentos mais conhecidos e visitados no mundo. A sua localização na entrada do porto de Nova York, e a enorme carga ideológica que carrega, certamente são os motivos por trás de tanta fama. O que muita gente não sabe é que ela não foi construída pelos americanos, e sim doada pela França como um presente que simbolizava a amizade entre os dois países.

Os planos para a doação iniciaram-se em 1865, mas arrastaram-se por cerca de vinte anos até que finalmente se realizassem. O escultor Frédéric Auguste Bartholdi ficou encarregado de elaborar o modelo e a construção em cobre da estátua. A estrutura interna, que a sustenta até hoje, foi projetada por Eiffel (o mesmo que construiu a famosa torre homônima em Paris).

No acordo de doação os norte-americanos ficaram encarregados de construir o pedestal e os franceses a estátua. A ilha, que hoje é o parque da liberdade, era o lugar de um forte do exército e foi escolhido para a instalação da estrutura devido a sua localização e relevo. O dinheiro para a realização da obra veio de doações tanto nos EUA como na França, através de centenas de eventos, dos mais variados tipos, que foram organizados com o intuito de angariar fundos para o projeto.

Em 1884 a estátua ficou pronta em Paris. O gigantesco espetáculo proporcionado por sua finalização só seria igualado com a exposição universal de 1889. Os trabalhos seguiram pelos anos seguintes do outro lado do Atlântico, enquanto o pedestal era finalizado. A estátua foi então desmantelada, e enviada por partes para a montagem em Nova York. Em 28 de outubro de 1886 foi inaugurada e o trabalho deu-se por encerrado.

Em pouco tempo “A liberdade iluminando o mundo”, tornou-se o símbolo dos Estados Unidos. Por causa de sua importância, terroristas já a atacaram e causaram sérios danos à sua estrutura. Nos últimos anos, com o aumento da ameaça de ataques, a segurança do local foi reforçada e vários pontos da estátua tornaram-se restritos aos turistas. Apesar das dificuldades de acesso, ela continua sendo um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- A Estátua foi oferecida primeiramente ao Egito, que não aceitou o presente;

- Sua altura é de cerca de 90 metros contando com o pedestal;

- Da sua inauguração até 1902 ela serviu como um farol que funcionava com energia elétrica (o primeiro do tipo no mundo);

- Durante a colocação do braço que segura a tocha, um erro de instalação fez com que o local se tornasse instável. Esse erro seria consertado apenas em 1986, depois dos trabalhos de restauração do monumento realizados naquele ano;

- A tocha foi trocada após a restauração de 1986;

- Existem três réplicas da estátua que saíram da mesma fundição que a original. Duas delas estão em Paris;

- A última das três está em Maceió, Alagoas, em frente ao Museu de Imagem e som, no bairro do Jaraguá.

Saiba mais em: http://www.nps.gov/stli/index.htm (site em inglês)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

World Trade Center



Nas décadas de 1950 e 1960 New York vivia com um problema de difícil solução. Por se tratar de uma ilha, a cidade não dispunha de espaço suficiente para a ampliação dos centros financeiros, em especial aquele próximo a Wall Street. O então governador do estado, Nelson Rockefeller, imaginava uma reestruturação e revitalização da região sul de Manhattan, de forma a garantir uma expansão dos negócios.

Assim, diversos estudos foram iniciados e a conclusão a que se chegou é de que no lado sudoeste da ilha havia um espaço interessante a ser aproveitado. Para isso, milhares de pessoas seriam removidas, casas destruídas e negócios deslocados. Um espaço gigantesco seria demolido e no local se ergueria o futuro World Trade Center.

Os planos para o local incluíam enormes torres de escritório e bilhões de dólares em investimentos. O projeto arquitetônico foi criado pelo arquiteto nipo-americano Minoru Yamasaki, cuja solução para os exigentes códigos construtivos da cidade estava na criação de um complexo com duas torres gigantescas, as maiores do mundo à época, e uma enorme praça cercada de edifícios com uma escultura no centro. O resultado agradou o governador e a municipalidade.

As obras iniciaram-se em 1966 com as escavações do local. Tamanha foi a quantidade de terra e rochas retiradas do que seria a base dos prédios, que Manhattan ganhou uma expansão para oeste. Esse novo terreno viria a ser futuramente o Battery Park City e o World Financial Center. O progresso da construção foi um sucesso. Os andares subiam no ritmo de um por semana e a silhueta das torres tornava-se cada vez mais marcante no horizonte da cidade. O sucesso na obra não se repetia na opinião dos moradores de New York. A maioria detestava o projeto e o condenava pelo seu estilo moderno e simplista.

Mas os anos passaram, a obra prosseguiu, e as torres ficaram prontas. Eram os maiores prédios do mundo e indiscutivelmente uma façanha da arquitetura e engenharia modernas. Milhares de pessoas trabalhavam no local e milhares de outras o visitavam todos os dias.  Apesar das críticas, em poucos anos tornou-se o símbolo da cidade.

E por ser símbolo, o World Trade Center enfrentaria duas grandes tragédias. A primeira em fevereiro de 1993, com a explosão de um caminhão bomba, matou seis pessoas e deixou mais de 1.000 feridas. A segunda em 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por terroristas se chocaram contra os prédios principais do complexo e o destruíram completamente, deixou quase 3.000 mortos. Segundo a versão oficial, os terroristas responsáveis eram extremistas islâmicos, que viam no poderio americano uma ameaça à sua religião.

O curioso nesses fatos é que a proposta de construção de Yamasaki, onde o vazio da praça seria preenchido pelas pessoas em volta da estrutura no centro, vinha da inspiração na Caaba muçulmana, o Templo de Meca. No fim das contas, os terroristas destruíram uma representação do seu mundo ideal, mesmo que a seus olhos tivesse se tornado blasfema.

Minoru Yamasaki, que via na construção do complexo um símbolo da paz mundial através do comércio entre as nações, não viveu tempo suficiente para ver sua criação destruída. Morreu em 1986 deixando um legado de obras tanto no mundo muçulmano quanto no judaico-cristão ocidental.

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- Em 1974, Philippe Petit, um equilibrista francês, atravessou clandestinamente o espaço entre as duas torres;

- Em 1975 um grande incêndio atingiu a torre norte, que não sofreu problemas estruturais significativos;

- 50.000 pessoas trabalhavam no WTC;

- O número de visitantes chegava a 200.000 por dia;

- Cada torre tinha 99 elevadores e três escadas;

- O WTC contava com duas torres de 110 andares, e mais cinco prédios cujo número de pavimentos estava entre seis e 47;

- O WTC contava ainda com um Shopping Center, um hotel classificação “4 diamantes”, um posto de observação no topo da torre sul, um restaurante no 107º andar da torre norte e um estacionamento para 2.000 veículos;

- Era o maior complexo de escritórios do mundo com 1.240.000m² de espaço arrendável, e tinha seu próprio código postal;

- Um novo World Trade Center está em construção em Manhattan e deve ficar pronto até 2014.

sábado, 21 de maio de 2011

Istambul

Estreito de Bósforo - pôr do sol

Assentada no lado europeu da Turquia nos dias atuais, a cidade de Istambul foi durante muitos séculos a mais importante do mundo. Transformada em capital da Roma Imperial sob o reinado de Constantino, o Grande, a cidade fez fama em diversas partes do globo e sem dúvida foi a mais cosmopolita e interessante à sua época. Seus mercados eram disputados por povos diversos, entre os quais genoveses e venezianos; as inúmeras guerras para conquistá-la dariam belos filmes hollywoodianos (não compreendo porque a indústria do cinema não atentou para isso ainda).

Os tempos de glória nos Impérios Romano, Bizantino e Otomano ficaram para trás, mas Istambul ainda guarda o charme das mesquitas e das basílicas, além da convivência entre diferentes povos e a beleza da arquitetura oriental. Entretanto, a “troca de mãos” entre gregos, romanos e turcos, deixaram suas marcas. Peças artísticas e tesouros inestimáveis, como a estátua de Justiniano com a maçã em suas mãos, ou a Igreja dos Santos Apóstolos, onde os Imperadores bizantinos eram enterrados, há muito desapareceram.

O hipódromo construído por Constantino, por exemplo, trazia em seu arco triunfal a escultura em bronze de quatro cavalos. Roubados pelos cruzados em 1204, após o saque da cidade, eles hoje estão em Veneza, sobre o pórtico da Basílica de São Marcos.
Mesquita Azul - Istambul
Apesar dessas perdas ao longo dos séculos, Istambul ainda guarda relíquias de outrora. Entre suas principais atrações estão a Basílica Hagia Sophia, construída pelo Imperador Justiniano no século VI D.C., e transformada em mesquita pelos turcos após a queda de Constantinopla em 1453. Mesmo que quinze séculos tenham se passado desde a sua construção, a basílica (hoje um museu) mantém-se firme como elemento vivo do passado majestoso da cidade.

Ainda que se entenda a mágoa européia pela perda da cidade, a conquista turco-otomana acabou por dar-lhe novo fôlego. Na verdade, eles a salvaram da desgraça quando a conquistaram. Sob o Imperador Constantino XI, Constantinopla nada mais era que um punhado de vilas cercadas por muros. A população havia escasseado e a miséria estava presente em toda parte. Bizâncio, como resquícios de Roma não mais existia, e havia se tornado apenas um estado vassalo do Império Otomano.

Cisterna da Basílica
Assim, quando Mehmet II (um líder renascentista e modernista), adentrou as muralhas e transformou a cidade em sua capital, tratou de repará-la e devolver-lhe a glória. Inúmeras obras públicas foram construídas e muitas outras reparadas. Aquedutos foram consertados, templos e muros reconstruídos e palácios erguidos. Constantinopla se tornara, novamente, uma das cidades mais incríveis do mundo.

Entretanto, o Império, como todos os outros antes dele, chegaria ao fim.  Quase quinhentos anos depois da conquista, a cidade teria seu nome modificado, perderia o status de capital e se tornaria apenas um posto avançado dos turcos na Europa. Sua localização, contudo, a torna uma das mais importantes do mundo, já que o estreito de Bósforo é um elemento importante para a geopolítica e economia mundiais.

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

* Istambul é a antiga Constantinopla. Seu nome permaneceu após a conquista turca e apenas no século XX foi modificado;

* Apesar de se destacar como um dos mais famosos templos da cidade, a Hagia Sophia não é o maior. A mesquita azul, construída por Ahmed I, tem esse título desde o século XVII;

* A Basílica dos Santos apóstolos, edifício que inspirou a construção de São Marcos em Veneza, deu lugar a mesquita Fatih em anos posteriores à conquista da cidade;

* O Hipódromo foi destruído, mas hoje em dia há uma praça na cidade, no local onde o mesmo se erguia que mantém o traçado da sua construção;

* O mercado de Istambul é ainda hoje um dos mais diversificados do mundo e atrai visitantes de todas as partes do planeta;

* A cisterna da basílica, construída por Justiniano no século VI, é umas das atrações mais visitadas.

* Estuda-se a possibilidade de devolução da Basílica Hagia Sophia à Igreja Ortodoxa;

Para saber mais:

O Império Otomano – Donald Quataert;

História das cruzadas, vol. I, II e III – Steven Runciman;

1453, a queda de Constantinopla- Steven Runciman;

1453: A Guerra Santa por Constantinopla e o confronto entre o Islã e o Ocidente – Roger Crowley