sexta-feira, 9 de setembro de 2011

As intermitências da morte


O primeiro livro que li do Saramago me deixou confuso. Sim, confuso. E confuso pelos sentimentos, pelas emoções que senti enquanto o lia. Mais tarde um amigo iria me dizer que aquele era o mais simples entre todos do autor, o que menos despertava interesse no leitor. Eu não concordei com ele, é claro. O tal livro, “Ensaio sobre a cegueira”, deu origem a um filme, muito bom também, e que foi visto por milhões de pessoas. Um conselho? Leia o livro primeiro e veja o filme depois!

Mas não é sobre esse livro que quero falar, e sim sobre o que li recentemente, “As intermitências da morte”. O livro começa assim: “E no dia seguinte, ninguém morreu.” Quer começo mais chocante? Mais incentivador? Passado o júbilo diante do fato, o país fictício criado por Saramago, vê-se diante de uma crise interminável. O que fazer com os “não-mortos”? O que os “mortos-vivos” sentem ou pensam? E por fim, onde está a morte?

A morte, por sua vez, não dá as caras por um longo tempo, e um grupo é criado para se livrar dos novos “indesejáveis”. A “máphia”, com ph mesmo, para diferenciar-se da outra, traz uma solução, que apesar de promissora no início, trará no futuro problemas diplomáticos terríveis, com iminência até mesmo de guerra. No fim, não é só a população que sofrerá com o sumiço da morte. Em breve, ela mesma perceberá as consequências de sua decisão.

Numa sátira incrível e bem humorada, Saramago nos faz pensar sobre política, religião, e relações humanas. E também perceber que o que vemos como grandes problemas, como a morte, por exemplo, pode ser o que mais desejamos.

Depois de meses com apenas dicas “indiretas” de livros, eis uma bem “direta” agora. É tão bom que o li em um dia apenas!

-- Thiago Amorim

P.S. No fim das contas foram duas dicas! Ou seriam três? 
Abração...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

World Trade Center



Nas décadas de 1950 e 1960 New York vivia com um problema de difícil solução. Por se tratar de uma ilha, a cidade não dispunha de espaço suficiente para a ampliação dos centros financeiros, em especial aquele próximo a Wall Street. O então governador do estado, Nelson Rockefeller, imaginava uma reestruturação e revitalização da região sul de Manhattan, de forma a garantir uma expansão dos negócios.

Assim, diversos estudos foram iniciados e a conclusão a que se chegou é de que no lado sudoeste da ilha havia um espaço interessante a ser aproveitado. Para isso, milhares de pessoas seriam removidas, casas destruídas e negócios deslocados. Um espaço gigantesco seria demolido e no local se ergueria o futuro World Trade Center.

Os planos para o local incluíam enormes torres de escritório e bilhões de dólares em investimentos. O projeto arquitetônico foi criado pelo arquiteto nipo-americano Minoru Yamasaki, cuja solução para os exigentes códigos construtivos da cidade estava na criação de um complexo com duas torres gigantescas, as maiores do mundo à época, e uma enorme praça cercada de edifícios com uma escultura no centro. O resultado agradou o governador e a municipalidade.

As obras iniciaram-se em 1966 com as escavações do local. Tamanha foi a quantidade de terra e rochas retiradas do que seria a base dos prédios, que Manhattan ganhou uma expansão para oeste. Esse novo terreno viria a ser futuramente o Battery Park City e o World Financial Center. O progresso da construção foi um sucesso. Os andares subiam no ritmo de um por semana e a silhueta das torres tornava-se cada vez mais marcante no horizonte da cidade. O sucesso na obra não se repetia na opinião dos moradores de New York. A maioria detestava o projeto e o condenava pelo seu estilo moderno e simplista.

Mas os anos passaram, a obra prosseguiu, e as torres ficaram prontas. Eram os maiores prédios do mundo e indiscutivelmente uma façanha da arquitetura e engenharia modernas. Milhares de pessoas trabalhavam no local e milhares de outras o visitavam todos os dias.  Apesar das críticas, em poucos anos tornou-se o símbolo da cidade.

E por ser símbolo, o World Trade Center enfrentaria duas grandes tragédias. A primeira em fevereiro de 1993, com a explosão de um caminhão bomba, matou seis pessoas e deixou mais de 1.000 feridas. A segunda em 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por terroristas se chocaram contra os prédios principais do complexo e o destruíram completamente, deixou quase 3.000 mortos. Segundo a versão oficial, os terroristas responsáveis eram extremistas islâmicos, que viam no poderio americano uma ameaça à sua religião.

O curioso nesses fatos é que a proposta de construção de Yamasaki, onde o vazio da praça seria preenchido pelas pessoas em volta da estrutura no centro, vinha da inspiração na Caaba muçulmana, o Templo de Meca. No fim das contas, os terroristas destruíram uma representação do seu mundo ideal, mesmo que a seus olhos tivesse se tornado blasfema.

Minoru Yamasaki, que via na construção do complexo um símbolo da paz mundial através do comércio entre as nações, não viveu tempo suficiente para ver sua criação destruída. Morreu em 1986 deixando um legado de obras tanto no mundo muçulmano quanto no judaico-cristão ocidental.

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- Em 1974, Philippe Petit, um equilibrista francês, atravessou clandestinamente o espaço entre as duas torres;

- Em 1975 um grande incêndio atingiu a torre norte, que não sofreu problemas estruturais significativos;

- 50.000 pessoas trabalhavam no WTC;

- O número de visitantes chegava a 200.000 por dia;

- Cada torre tinha 99 elevadores e três escadas;

- O WTC contava com duas torres de 110 andares, e mais cinco prédios cujo número de pavimentos estava entre seis e 47;

- O WTC contava ainda com um Shopping Center, um hotel classificação “4 diamantes”, um posto de observação no topo da torre sul, um restaurante no 107º andar da torre norte e um estacionamento para 2.000 veículos;

- Era o maior complexo de escritórios do mundo com 1.240.000m² de espaço arrendável, e tinha seu próprio código postal;

- Um novo World Trade Center está em construção em Manhattan e deve ficar pronto até 2014.

domingo, 4 de setembro de 2011

Uma breve história da Igreja Católica - Parte 4



O reino da Itália foi unificado na década de 1870. A cidade de Roma foi o último baluarte da resistência papal, mas caiu sob os rebeldes que lutavam pela causa do rei. A base legal que sustentava a existência dos Estados Pontifícios estava em um documento conhecido como a “Doação de Constantino” e que legava o Império Romano ao Papa. Tudo, obviamente não passava de uma fraude medieval. Pio IX, entretanto, se dizia cativo do rei da Itália em sua própria casa, e nunca aceitou fazer qualquer tipo de acordo com seu governo que pudesse legitimar a tomada da Cidade Eterna.

O Século XIX trazia um progresso sem precedentes para o mundo. A formação das grandes potências imperialistas européias, a disseminação da revolução industrial e o advento da ciência moderna moldavam um mundo cada vez mais centrado na razão. A fé e a religião como guias da humanidade não mais fazia sentido. A Igreja romana experimentava uma época de crise e esvaziamento. O Papado já não podia ditar regras ao mundo e estava cada vez mais legado ao ostracismo político. Isso ficou muito claro, quando ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Igreja não foi ouvida nas negociações de paz.

As finanças da Igreja na virada do século XIX para o XX também não se sustentavam. O Papa vivia em petição de miséria, cercado de palácios e igrejas em ruínas. Mas com a ascensão de Mussolini ao poder na Itália, e o Tratado de Latrão em 1929, a Igreja pôde reaver um pouco de sua glória. A região do Vaticano foi transformada em um Estado soberano dentro dos limites de Roma. Mussolini também deu uma excelente compensação financeira pelos territórios tomados dos antigos Estados Pontifícios, e privilégios de extraterritorialidade para Castel Gandolfo e as três Basílicas maiores de Roma.

Apesar de sua perda de “funções” na sociedade, havia algo defendido pela Igreja desde tempos imemoriais que se mantinha firme: a perseguição aos judeus e a sua transformação em cidadãos de segunda classe. Essa postura seria levada ao extremo com o nazismo e a solução final para os judeus na Alemanha, o Holocausto (fruto do Darwinismo social muito incentivado à época). O extremismo do Füher alemão iria ao final levar as pessoas a esquecerem que atitudes parecidas haviam sido perpetradas pela Igreja de Roma e boa parte do mundo ocidental durante séculos. Um excelente “bode expiatório” havia sido criado.

Sobre os rumos da guerra, a atitude extremamente neutra de Pio XII não seria esquecida. Ele ficaria conhecido posteriormente como “O Papa de Hitler”, título talvez injusto, já que o Papa ajudou centenas de judeus a escapar da morte nas mãos nazistas. O silêncio da Santa Sé indiscutivelmente foi a melhor escolha racional, mas moralmente um grande erro. Afinal, como representante de Deus na Terra, o Papa tinha obrigação de condenar o regime Nazista, independente do que viesse a acontecer a ele e a Igreja.

Mas a guerra acabou, o Papa morreu e a Igreja, após séculos de poucas mudanças, realizou o Concílio Vaticano II, com o objetivo de adaptar-se ao mundo moderno. Muitos avanços se consolidaram e o Papado readquiriu importância. João Paulo II, com sua imensa popularidade, ajudou os poloneses a destruir a ditadura soviética. Ele também tornou a Igreja mais humana e mais presente e incentivou grupos católicos em diversas partes do mundo. Em contrapartida também perseguiu e condenou alguns outros, como os ligados a teologia da libertação. No fim das contas, sua morte em 2005 foi um choque para o mundo cristão.

Choque ainda maior tem sido os escândalos sexuais que têm abalado a fé na Igreja. Clérigos, padres, bispos. Centenas de acusações contra eles surgem todos os anos, transformando esses fatos em uma grande vergonha para a Santa Sé. Ainda que o Papa atual, Bento XVI, tenha sido acusado de fechar os olhos a esses fatos; que continue condenando o aborto, o uso da camisinha e a homossexualidade; a Igreja, parece que a seu modo, conseguirá sobreviver. O caminho para essa sobrevivência estão bem definidas nas palavras do Santo Padre, "Uma igreja menor, porém unida". 


E mesmo que 1.700 anos tenham se passado desde sua institucionalização e 2.000 desde a morte do sábio carpinteiro; mesmo que uma chuva de intempéries a tenha acompanhado no decorrer da história; ela ainda assim conseguiu sobreviver. É hoje, de fato, a única instituição a permanecer de pé desde a Antiguidade. Não seria injusto, portanto, admitir que seu pensamento retrógrado possa vir justamente disso.

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

Uma história de Deus - Karen Armstrong;
Declínio e queda do Império Romano - Edward Gibbon;
A queda de Constantinopla - Steven Runciman;
Basílica de São Pedro - Esplendor e escândalo na construção da catedral do Vaticano - R.A. Scotti
A história secreta dos Papas - Brenda Ralph Lewis;

sábado, 3 de setembro de 2011

Uma breve história da Igreja Católica - Parte 3



O Ocidente assistiu perplexo, mas não surpreso, à queda de Constantinopla. Após anos de assédio, os Turcos finalmente conquistaram a cidade e destruíram o Império Romano do Oriente. Extremamente dependente do poder Imperial, a Igreja Católica Ortodoxa grega agora perdia ímpeto. Sua força foi transferida para ainda mais longe do ocidente, sob proteção do Czarismo Russo.

Enquanto isso a Igreja de Roma estava cada vez mais poderosa. Os Estados Pontifícios estendiam sua influência por todo o mundo ocidental e o poder Papal era mais forte que nunca. A cidade de Roma e boa parte do que hoje compõe a Itália faziam parte do patrimônio do Papa, como um estado com leis e povos subjugados a ele. É nessa época que os maiores tesouros artísticos que hoje estão sob poder da Igreja foram criados. E é nessa época também que os maiores conflitos religiosos da história irão surgir.

O Renascimento em fase de formação garante, através do mecenato, que artistas como Bramante, Rafael Sanzi, Michelângelo e Da Vinci possam desenvolver por inteiro suas aptidões criativas e deixar um legado de obras de arte maravilhosas. Trabalhar para a Igreja era uma ótima opção e garantia de boa vida para cada um deles, daí a existência de tantas obras ligadas ao catolicismo romano. Sob o Papa Júlio II a igreja vai chegar ao ápice. Il papa terribile comandará exércitos e conquistará territórios sob a égide da cruz. Ele também iniciará a construção da nova Basílica de São Pedro em Roma e liberar a venda de indulgências como forma de adquirir recursos para isso. Alguns anos depois, essas obras custarão muito caro à igreja, custarão muito caro até mesmo para o povo da cidade de Roma.

Conflitos religiosos e sociais irão irromper e levar à Reforma Protestante. Roma será saqueada; igrejas e mosteiros destruídos. O levante popular contra a igreja será tão feroz que até mesmo antigos aliados, como Henrique VIII da Inglaterra, e os espanhóis se voltarão contra ela. Apesar dos esforços da contra-reforma, o Papa não conseguirá reter a cisão. As ideias de Lutero, Calvino e outros reformadores, destruirão para sempre a unidade da Igreja católica Romana.

A época do Papa “bon-vivant” acabará e sob o pontificado de Sisto V a contra-reforma se consolidará. Nessa época também, a enorme cúpula da basílica de São Pedro é finalizada por Giacomo Della Porta. No século XVII, Bernini é o novo arquiteto responsável pela construção da basílica. A teatralidade do Barroco utilizada ao máximo por esse artista concederá à Cidade Eterna uma beleza ímpar.

Mas enquanto a contra-reforma gera seus frutos e enquanto a basílica é finalizada, um novo poder surge para desafiar o Papa e a Igreja. E o poder que imana do povo, junto ao iluminismo do século XVII e as revoluções burguesas do século XVIII é tão forte, que por alguns anos o fim da igreja chegou mesmo a ser cogitado. Quando Napoleão sequestrou o Papa, muitos anunciaram que esse momento havia chegado.

No entanto, mesmo que tudo parecesse perdido, a igreja triunfou no final. O Papa perdeu seu império, mas recuperou o trono de São Pedro. A criação da Itália extinguiria os Estados Pontifícios, mas traria um novo despertar para a Igreja Católica: a possibilidade de se reinventar. Não que ela estivesse disposta a isso...

-- Thiago Amorim

O que não foi citado nesse texto:
- As grandes navegações acontecem;
- Os turcos são barrados em Viena;
- Fundação da ordem religiosa dos Jesuítas e sua força na América;
- A República de Veneza perde importância política e econômica;
- O fim do Sacro Império Romano-Germânico e a criação do Império Alemão;
- Independência das Colônias Americanas;
- Ascensão do Império Britânico;

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uma breve história da Igreja Católica - Parte 2


A fundação da Igreja aconteceu em um momento crítico para o Império Romano. Antes de subir ao poder, Constantino, o Grande, teve de enfrentar revoltas e lutar contra poderosos inimigos que ameaçavam o seu lugar como Imperador. Após anos e anos de guerras civis, finalmente a paz havia sido restaurada, mas novos problemas apareciam a cada dia. A crescente onda migratória dos povos do norte da Europa e as ameaças nas fronteiras setentrionais e orientais, o fizeram mudar a capital de Roma para Constantinopla, já que assim, o centro de poder ficaria mais próximo dos conflitos.

A solução do Imperador foi importante, pois garantiu certa estabilidade para o governo e para as fronteiras. Entretanto, após a morte de Constantino sérias convulsões em todo o território trouxeram mais dificuldades. Roma perdia espaço como centro administrativo, sendo Constantinopla cada vez mais importante. Esse problema acabou refletindo na forma como a Igreja funcionava, já que o Papado e, portanto, a sede da Igreja estava na primeira cidade.

A situação iria se agravar com a divisão do Império no fim do século IV quando, com a morte do Imperador Teodósio em 395, Roma foi finalmente dividido em duas partes. A parte Ocidental ficaria agora com a sede em Roma e a Oriental com sede em Constantinopla. O surgimento de dois Impérios Romanos, onde o latim era predominante no ocidental e o grego no Oriental continuou a afastar ainda mais os religiosos e enfraquecer a unidade da igreja.

Com o agravamento das invasões bárbaras e a crise do sistema escravocrata, o ocidente finalmente evaporou. Odoacro destronou o último Imperador Romano em 476 e destruiu completamente a ideia de um império Ocidental. O mundo europeu mergulhou nas trevas da Idade Média e as cidades esvaziaram-se. O Papado, contudo, manteve-se firme, e a igreja adaptando-se aos invasores, permaneceu existindo.

Meio milênio de distanciamento iria acarretar no século XI o Grande Cisma do Oriente. A igreja católica era desmanchada em duas partes, com a excomunhão mútua dos Bispos de Roma e Constantinopla. Os grandes cernes da questão, além da própria distância geográfica e de influência, estavam no “cesaropapismo” (poder do Imperador romano sobre as decisões da igreja) e no “filioque” (a discussão a respeito da divindade ou não de Cristo). 

Enquanto o catolicismo de Roma defendia o poder supremo do Papa e a essência divina do profeta, os constantinopolitanos defendiam uma visão mais voltada à simbiose com o Imperador e a uma visão mística da Santíssima Trindade, onde a divindade ou não de Cristo não teria tanta importância. A Igreja Católica Oriental e a civilização bizantina (nome moderno) preservaram os costumes, os textos e os tesouros da Antiguidade, enquanto tudo isso se perdia no Ocidente

Mas o que talvez seja mais incrível sobre os “anos das trevas” europeus é que o poder do Papa perdurou sobre todos os antigos territórios da Roma Ocidental e sua influência permaneceu existindo mesmo nos mais difíceis dos tempos, e sobre os mais variados dos povos. Quando da Queda de Constantinopla sob o julgo Turco-otomano, os eruditos e os nobres daquele lugar fugiram para Roma e o Ocidente, dando fôlego ao Renascimento Artístico e Cultural, e pondo fim à Idade Média. A Igreja Cristã iria se apropriar dessas ideias, trazendo uma legião de mudanças sem precedentes para o Papado e toda a Europa Ocidental.

-- Thiago Amorim

O que não foi citado nesse texto:
- O sistema feudal toma conta da Europa;
- A fundação do Sacro Império Romano-Germânico;
- O Cisma do Ocidente e os três Papas;
- O surgimento dos Estados europeus;
- As cruzadas ocorreram nessa época diante do pedido feito por Aleixo Comneno, então Imperador de Bizâncio, e sob incentivo do Papa de Roma;
- O saque de Constantinopla pelos cruzados;
- O Avanço do islã pela Europa, e o enfraquecimento da Igreja no Oriente;
- A peste negra e a histeria sobre o fim do mundo;
- Os esforços dos últimos Imperadores bizantinos em buscar ajuda no Ocidente diante da  guerra com os turco-otomanos;


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma breve história da Igreja Católica - Parte 1


Há cerca de dois mil anos, um intrépido carpinteiro com ideias proféticas era crucificado em Jerusalém. Devido ao local onde vivia, sua morte deveria ter sido despercebida ou pouco comentada, mas isso não aconteceu. Ele havia deixado discípulos, que de forma itinerante passaram a vagar pelo Império Romano pregando a “boa nova de Cristo”. O Cristianismo, como ficou conhecido o culto a essa figura, espalhou-se velozmente do mundo Oriental para o Ocidental e transformou-se numa das maiores religiões do globo em anos posteriores.     

Entretanto, nos seus primeiros anos, os Cristãos foram perseguidos dentro da sociedade romana e inúmeros martírios e assassinatos cometidos. Roma não via com bons olhos uma seita que ameaçava o culto aos deuses antigos e incitava o povo a rebelar-se contra o sistema vigente. Dessa forma, inúmeros imperadores promoveram a perseguição aos cristãos, sendo talvez a causada por Nero a mais famosa delas, já que o apóstolo Pedro pereceu sob seus pés no circo de Roma.

Após cerca de trezentos anos de ilegalidade, o cristianismo tornou-se uma força esmagadora dentro do Império e sob o reinado de Constantino, o Grande, com o famoso Édito de Milão promulgado, os cristãos puderam finalmente viver em paz.

Mas se podiam viver em paz, seus inimigos não podiam. Quase que imediatamente após a permissão para manter seus cultos, os perseguidos transformaram-se em perseguidores, levando uma onda de terror e morte às ruas de todo o império. O paganismo perdeu força e patrocínio, e em poucas décadas foi inexoravelmente substituído pela nova religião.

Com tantos novos seguidores, logo as ideias sobre o que de fato era ser cristão começaram a se confundir. Alguns pregavam que Cristo era Deus encarnado, outros que ele não passava de um homem com ótimas ideias a ser seguidas. Diante do impasse e das crescentes dissidências, Constantino, o Grande, mais uma vez, reuniu um Concílio ecumênico em Nicéia, onde representantes de diversas partes do mundo definiriam finalmente o que era o cristianismo e o que deveria ser feito para manter-se como devoto dessa fé.

É nesse ponto da história, mais precisamente no ano 325 D.C., que a Igreja Católica Apostólica Romana vai surgir como instituição. Até então, o credo cristão era informal e disperso, com as autoridades religiosas surgidas da comunidade na qual estava instalado. A reunião em Nicéia criou os dogmas, os ofícios e os cargos que deveriam existir na nova religião, e de que forma se poderia alcançar a vida eterna. Festividades importantes, como o nascimento de Cristo e a Páscoa, também foram definidos nessa reunião, utilizando como referência, e até mesmo como a forma de comemoração, as festas pagãs.

Bispos de diversos pontos do Império Romano, como Constantinopla, Roma, Antioquia, Alexandria, entre outros, tornaram-se os mestres espirituais e guias do povo de Cristo, sendo que o Bispo da cidade de Roma seria o “Primeiro entre iguais”, o Papa Católico e maior líder entre todos.

Constantino, portanto, foi o grande patrocinador da Igreja, e inteiramente responsável pela sua instituição. Apenas com seus recursos e incentivos, a religião católica tornou-se auto-suficiente e prosperou para a eternidade.

-- Thiago Amorim