Há cerca de 5.000 anos os cananeus se instalaram na região do oriente médio e fundaram uma cidade que durante milênios iria interferir na história mundial: Jerusalém. A partir daí, uma série de guerras, tratados, negociações de paz e um imenso banho de sangue acompanhariam a história desse lugar.
A região da Judéia passou por diversas mãos. Os primeiros foram os cananeus, sendo seguidos pelos filisteus, jebusitas, hebreus, babilônicos, persas, macedônios, gregos, romanos, sassânidas, bizantinos, califados omíada, abássida e fatímida, seljúcidas, francos, mamelucos e por fim os turco-otomanos. Mas porque tanto sangue derramado pela posse de uma cidade?
A cidade de Jerusalém é importante espiritualmente para os Judeus desde a formação dos estados hebreus. Para o Ocidente ela passa a ser importante após a adoção do Cristianismo pelo Império Romano no século IV, e para os muçulmanos a partir do século VII através dos ensinamentos do profeta Maomé.
Segundo a tradição, o local havia sido escolhido pelo próprio Deus para que seu povo se instalasse e construísse o paraíso na terra. Abraão, o grande patriarca bíblico, teria se acomodado ali e vivido durante alguns anos. Posteriormente, havia saído da região rumo ao Egito devido a uma enorme seca. Apesar de inicialmente se dar bem com os egípcios, o povo hebreu acabou se tornando cativo deles, até que fosse libertado por Moisés alguns anos depois.
Começava aí o período descrito na Bíblia como o “Êxodo”, quando todo o “povo de Deus” viveu vários anos perdido no deserto em busca da terra prometida. Chegando ao destino final, se depararam com novos povos ali vivendo e após séculos de guerra conquistaram toda a região formando o reino unido de Israel e Judá, posteriormente dividido em dois reinos: Israel ao norte e Judá ao sul, ambos nem um pouco amistosos entre si.
O reino de Israel acabou sendo conquistado pelos assírios no século VII a.C. fazendo com que Judá sofresse as agruras do domínio estrangeiro em pouco tempo. Seria finalmente conquistado no século VI a.C. pelos babilônicos e após alguns anos todo o povo transformado em escravo. Apenas após as conquistas de Ciro, da Pérsia, e Alexandre, o Grande, da Macedônia eles retornariam às suas terras e voltariam a organizar um governo no reino de Judá. Apesar dessa autonomia, os governantes gregos manteriam controle sobre a região. Em 70 d.C. Jerusalém seria completamente arrasada por legiões romanas e o estado Judeu destruído. Seu povo se espalharia pelo mundo em um evento conhecido como “Diáspora”. A essa altura, os Hebreus já eram conhecidos como Judeus.
A cidade “santa” de Jerusalém sofreu durante a história 23 sítios, duas destruições completas, 52 ataques, e 44 conquistas e reconquistas. É atualmente responsável pelo conflito mais complicado e intricado no planeta. Os cristãos, após perderem-na com a queda do Reino de Jerusalém no século XIII, “desistiram” de lutar por ela e se concentraram em Roma. Os judeus a reivindicam para si e para o seu estado, os muçulmanos para os palestinos e o povo do islã. Apesar de haver tanta mágoa entre os dois lados, historicamente ambos eram unidos. Durante as cruzadas, judeus e muçulmanos lutaram lado a lado para defender a terra santa dos invasores cristãos.
O conflito atual, deriva da política surgida na era imperialista européia, quando um número cada vez maior de judeus começou a emigrar para a palestina. A essa época, a região fazia parte do Império Otomano e tinha maioria muçulmana.
Depois da Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Otomano, os árabes esperavam obter do governo britânico a formação de um estado para si pela ajuda que prestaram durante o conflito. Eles exigiam a diminuição do número de imigrantes judeus para a região, coisa que os ingleses não puderam fazer. Na verdade, os britânicos já haviam prometido aos judeus, embora de forma ambígua, a criação de um estado independente. Assim, diante do impasse, em 1923, a Inglaterra dividiu a região em duas zonas administrativas e manteve os judeus por lá. Os árabes não aceitaram a decisão, pois temiam perder espaço para os judeus. Nessa época começam os conflitos armados entre os dois povos e os primeiros homens-bomba aparecem.
A ascensão do Nazismo, e a perseguição européia aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, vão levar a criação do estado de Israel em 1948. Os árabes ficam inconformados com isso e vários países da região declaram guerra à nova nação. A guerra duraria quase dois anos, mas seria vencida por Israel que, dessa forma aumentaria suas terras. Outros conflitos acompanhariam ambos os lados até os dias atuais.
Um dos grandes entraves para um acordo de paz definitivo, é que Jerusalém é considerada por ambos sua capital e, portanto é indivisível. Além disso, a “cidade Santa” contém relíquias das três religiões mais importantes do mundo, que incluem a mesquita de Al-aqsa (e a cúpula da rocha), o Muro das Lamentações e a Basílica do Santo Sepulcro. Muçulmanos e cristãos compartilham da ideia de que Jesus foi um messias bíblico, mas os Judeus não. Outro ponto de conflito é que, segundo a tradição, onde hoje está o pátio das mesquitas (cúpula da rocha e Al-aqsa) localizava-se o templo de Salomão. Os judeus também defendem que o seu povo colonizou a região e fundou os estados de Israel e Judá antigos, mas os muçulmanos lembram que antes deles outros povos existiam e acreditam ser descendentes desses últimos.
Poucos lugares no mundo têm tanta importância para tanta gente. Jerusalém é o símbolo da fé para três religiões que convergem a um mesmo ponto: embora pareçam distantes em suas crenças, Cristãos, Muçulmanos e Judeus acreditam no mesmo Deus. Eles até compartilham os mesmos profetas (com a exceção de Jesus e Maomé).
Apesar de parecer insolúvel, talvez a solução do conflito seja mais simples do que se imagina. Quando todos perceberem que um único Deus, criou um único povo, Jerusalém finalmente transformar-se-á na verdadeira "Terra Santa”.
--Thiago Amorim
Para saber mais:
Jerusalém: Uma cidade, três religiões – Karen Armstrong;
História das cruzadas vol. I, II e II – Steven Runciman;