Palácio da Alvorada - Brasília |
O movimento moderno foi um
daqueles eventos que mudam completamente o rumo da humanidade.
De repente, em diferentes lugares do mundo e quase ao mesmo tempo, a pintura, a
escultura, a arquitetura, a música, o teatro, o design, a literatura, sofreram
uma mudança de paradigma sem precedentes. O modelo tradicional de cultura
sofreu um choque tremendo, recebendo grande rejeição, e, finalmente a arte começou
a ceder espaço para o abstracionismo.
Apesar de parecer
surpreendente que tudo isso tenha acontecido tão “de repente”, a situação na
Europa e no resto do mundo à época era mais que propícia para essa sucessão de
acontecimentos. A Revolução Industrial havia trazido um progresso técnico como
jamais havia sido visto, e a ascensão da burguesia, e consequentemente do
capitalismo, trouxeram recursos que podiam financiar os novos artistas e
intelectuais daquela época, inaugurando uma nova forma de mecenato. Aliado a tudo isso, a
fotografia, o vapor, o telégrafo e as ferrovias tornaram-se um grande divisor de águas.
Durante séculos, as ideias dos homens eram difundidas entre pessoas que se
conheciam, ou que conviviam na mesma região. Isso evitava um campo maior de
ação para ideias vanguardistas, e inibia a produção artística e cultural a
pólos de atração específicos. Os novos meios de difusão de notícias, e de
comunicação, permitiram um maior contato entre pessoas de diversos lugares do
mundo; o vapor e as ferrovias propiciaram as viagens necessárias para a troca de ideias
e a propulsão da internacionalização das vanguardas artísticas.
A fotografia foi um dos
passos mais importantes para a mudança da arte. Com o realismo das fotos, a
arte sofreu uma grave crise de identidade, e entrou num momento conturbado. A
saída encontrada pelos artistas para superar essa crise existencial estava num
modo mais dinâmico de produzir arte, de forma que em poucos anos diversas
correntes artísticas surgiram, como o impressionismo, o expressionismo, o
futurismo, o construtivismo, o De stijl, entre outros, uma sobrepondo-se a
outra, e se completando no caminho de construção para uma arte com a cara da
modernidade.
É claro que uma mudança como
essa no mundo da arte influenciaria completamente todos os campos da cultura
humana. Assim, a literatura, o cinema (que surgia na época), a arquitetura, a
música, a escultura e todos os campos do saber sofreram grandes alterações.
Diversos expoentes advindos dessa nova forma de produzir elementos culturais
tornaram-se ícones da sociedade moderna: Picasso e o cubismo, Monet e o
impressionismo, Salvador Dalí e o surrealismo, Rodin e o seu famoso “Pensador”,
Le Corbusier e os cinco pontos essenciais para uma boa arquitetura, Frank Lloyd
Wright e sua casa da cascata, a Bauhaus de Gropius, o arranha-céu de Mies Van
Der Rohe, entre outros. Personagens complexos e fantásticos, que trouxeram ao
mundo uma revolução artística e cultural tão grande quanto o foi o Renascimento
do século XV.
A partir desse ponto, a
arquitetura assume uma nova particularidade e abandona os adornos do ecletismo
em voga. Ela passa a se concentrar na funcionalidade e na forma, utilizando
para isso plantas livres, fachadas limpas, cores neutras, e muito concreto e vidro!
Le Corbusier sonha com uma cidade perfeita, impecável, onde grandes bulevares,
arranha-céus enormes e gigantescas avenidas reinariam supremos diante do
passado apagado. Seus planos se frustraram, e Paris foi salva. Mas o seu sonho
se concretizaria pelas mãos de um presidente ousado, um arquiteto egocêntrico e
um controverso urbanista humanista, na capital de um país dos trópicos:
Brasília. Os diversos problemas que a gigantesca cidade criou nos últimos cinquenta
anos provam que apesar de o projeto moderno ser utopicamente belo, a
desigualdade social permeia as suas conquistas.
-- Thiago Amorim