Caravaggio - Pintura de Ottavio Leoni |
Após a Reforma, a
Igreja buscou diversas formas de se manter firme e poderosa novamente. Apesar
de ter fracassado em diversas frentes, como na Inglaterra, por exemplo, os
católicos triunfaram em vários lugares do norte da Europa, na França, na Itália
e na Península Ibérica. Mas os tempos de Papas libidinosos e, até mesmo
criminosos, haviam passado. A Igreja conseguiu reformar-se, diminuindo as
despesas e as orgias papais.
O momento histórico,
entretanto, exigia uma nova forma de mostrar a fé e glorificar a Deus, numa
tentativa de transformar os devotos em verdadeiros súditos de Roma. E a melhor
forma encontrada para a realização desse ideal pelos artistas barrocos é a
teatralização e a espetacularização da própria fé.
A captura de Cristo - Caravaggio |
Mas o passo já estava
dado. O Barroco triunfaria como modelo artístico predominante no século
seguinte, trazendo para todos os setores da sociedade sua forma teatral e
sensual. As obras artísticas não mais retratarão apenas os ricos e poderosos,
mas também pessoas comuns, como plebeus, servos e ajudantes. O próprio
Caravaggio utilizará em muitas das suas obras pessoas comuns como modelos para
a Virgem Maria, os anjos, santos e o próprio Redentor da humanidade. As
diversas obras realizadas em Roma no período são exemplos diversos dessa nova
forma de enxergar o mundo.
Na arquitetura, modelos
não faltam. A Basílica de São Pedro, a obra que causou a discórdia cristã, é um
dos exemplos mais grandiosos da arquitetura barroca religiosa. Apesar de a obra
ter avançado do Renascimento até o fim do período barroco, seu interior foi
decorado quase que inteiramente sob esse estilo arquitetônico. As diversas
estátuas, nichos, “apetrechos e penduricalhos” que enfeitam a basílica deixam
qualquer visitante boquiaberto. E o que é mais impressionante, tudo soa perfeitamente
harmonioso, mesmo que num caos de elementos decorativos.
Baldaquino de bronze - Basílica de São Pedro |
Imaginar proezas tão
incríveis pode parecer difícil, mas os artistas barrocos conseguiram realizar
obras perfeitamente realistas e emocionantes, utilizando para isso de ângulos
diversos, formas elípticas e a conexão entre os objetos existentes nos
ambientes. Cada estátua presente no local está relacionada à seguinte. Não
existe elemento solto ou perdido, todos são conectados entre si. E essa é uma
característica presente em todas as obras barrocas.
Praça e Basílica de São Pedro - Vaticano |
As colunas gigantes não
estão centralizadas de acordo com o obelisco localizado no centro da praça.
Isso foi feito para tentar disfarçar a diferença de dois graus entre o obelisco
e a nave de São Pedro. No ponto em que os dois braços da colunata se encontram
com as alas laterais que levam até a entrada da igreja, foi possível cortar o
efeito horizontal da fachada. O resultado é um abraço gigantesco nos devotos
que ali se encontram, e um enquadramento perfeito para a Basílica ao fundo. A
Via della conciliazione[1],
logo antes da Praça Pio XII e da Praça da Basílica, maximiza esse efeito.
Mas o Barroco não irá
apenas aparecer nas obras religiosas. A França de Luís XIV servirá de terreno
para a construção e consolidação do Barroco em outras partes da Europa, fora da
esfera de influência italiana. E as realizações ali presentes evidenciarão mais
uma vez as enormes transformações pelas quais a sociedade européia passava; o
surgimento de um novo mundo centrado no absolutismo monárquico e nos mimos de
um rei caprichoso e narcisista, que buscava através da pompa e da teatralidade
consolidar seu poder sobre todos os plebeus, nobres e o próprio clero do seu
país.
Galeria dos espelhos - Versailles |
As formas
arquitetônicas centralizadas, as enormes galerias recheadas de pinturas
fantásticas, os diversos jardins, fontes, e até mesmo as roupas das pessoas que
ali viviam formavam um espetáculo grandioso. O rei buscava, através do luxo,
evidenciar sua importância e o seu poder. Todo esse esbanjamento era garantido
pela exploração do povo da França, e no futuro traria sérios problemas para os
nobres e para a coroa. As cabeças, literalmente, rolariam anos depois.
Mas o Barroco ainda
atravessaria meio mundo antes de finalmente sucumbir. E suas características
avançariam pela Holanda, pela Alemanha, pela América, e influenciariam até
mesmo os maiores inimigos da fé cristã, os Turco-otomanos, no Oriente.
Grande abraço!
-- Thiago Amorim
-- Thiago Amorim
[1]
Apesar da via ter sido projetada ainda no
século XVII, só foi construída no século XX, a mando de Mussolini, como parte
das compensações feitas à igreja pela perda de Roma e dos Estados Papais.
Diversos arquitetos contemporâneos à obra não ficaram felizes pelo borgo
existente no local ter sido removido para a construção da avenida.