Brasão Papal |
Apesar de muitas pessoas nunca
terem imaginado, o território que hoje é conhecido como Estado do Vaticano é na
verdade um último resquício do que um dia foram os Estados Papais (ou Estados
Pontifícios). Seu território era vasto e compreendia grande parte das terras da
moderna Itália, existindo por cerca de mil anos.
As origens do poder e domínios
papais remontam aos tempos de glória do Império Romano. Após a adoção do
Cristianismo pelo Imperador Constantino, e a sua oficialização como religião do
Império por Teodósio, a Igreja Católica alcançou um status jamais imaginado.
Era a representante de Deus na Terra, sob a liderança do Vigário de Cristo, o
Papa. Seu poder, que de início era partilhado com o Imperador, tornou-se único
e irrestrito após a destruição de Roma pelos povos do Norte da Europa na
segunda metade do século V.
Essa situação, entretanto, não
era tão confortável. A ameaça dos povos que invadiam a Itália tornou a vida do
Clero Romano muito difícil, e a fragilidade do governo de diversos Papas
faziam-nos dependentes dos monarcas europeus. Roma nesse período caiu nas mãos
de povos diversos, inclusive dos bizantinos no século VI. A ameaça tornou-se
tão gritante que até os Sarracenos estabeleceriam um emirado na Península
Itálica durante alguns anos.
Mas o poder Papal se tornaria
forte exatamente pelas guerras e pela confusão gerada pelos sucessivos povos
que iam e vinham pela Itália. No fim das contas, o Papa resolvia questões
dinásticas e disputas políticas, agindo como um verdadeiro embaixador de
assuntos estrangeiros para cada um dos reinos europeus. Sua bênção instituía ou
destruía monarcas, e a fé na Igreja manteve certa coesão numa época em que a Europa mergulhava em caos e disputas mesquinhas.
Divisão Política da Europa do século XVIII |
Os Estados Pontifícios foram formados
a partir de várias terras e regiões que iam de Roma até a fronteira com a
República de Veneza, e surgiu oficialmente a partir do século VIII, sob a
proteção (dominação) do Rei Franco Pepino, o Breve. O futuro Império Carolíngio
teria uma relação direta com o Papado, de forma que o reino da França,
originado do desmembramento Carolíngio, influenciaria na escolha do Papa até o
século XIV, quando o cativeiro de Avignon acabou e o Papa voltou para Roma.
A história dos Estados Papais,
portanto, é cheia de reviravoltas, e de mentirinhas também. O documento
conhecido como “doação de Constantino” (desmascarado ainda durante a Idade
Média) serviu durante algum tempo como legitimador da sua instituição. Seus
domínios sofreram expansão e contração contínua, sendo a época do Renascimento
o momento de maior esplendor. Sob a mão forte e imperiosa do Papa Júlio II, os
Estados Pontifícios alcançaram o seu auge. Várias regiões foram anexadas,
tornando-o forte e independente de auxílio estrangeiro. Júlio II também foi
responsável pelo surgimento da Guarda Suíça, um corpo de elite preparado para
defender o Papa sob qualquer circunstância, e que foi responsável pela salvação
de Clemente VII durante o saque de Roma de 1527.
Então mesmo que isso pareça
esquisito, o Papa era um soldado, um estadista, e um monarca absolutista de um
vasto território europeu. Ele concedia títulos, cobrava impostos e tinha sua
própria Corte, captando recursos e destinando-os a diversas empreitadas Roma
afora. Eis, portanto, a origem da expressão “príncipes da Igreja”: os Bispos, Cardeais
e Arcebispos são Príncipes desse Império Papal espalhados pelo mundo.
Mas apesar da força, do exército,
dos recursos e do poder que o Papa tinha, a Idade Moderna lhe preparava uma
surpresa. A Itália começou a ser reunida sob um único soberano, e pouco a pouco
suas terras foram sendo engolidas pelo novo estado que surgia. Em meados do
século XIX, os Estados Pontifícios se resumiam apenas a cidade de Roma,
território este que seria tomado pelo Rei Vitório Emanuel em 1870, e o então
reino Papal destruído. É claro que Pio IX, o Papa da época da conquista
Italiana, não ficaria feliz com isso. Ele pediu ajuda ao mundo para reaver seus
territórios, e não aceitou qualquer compensação pela destruição do seu reino.
Bandeira dos Estados Pontifícios |
Somente no primeiro quartil do
século XX, o papado aceitaria as compensações e faria um tratado com a Itália
(Tratado de Latrão de 1929), em que a Igreja teria o Vaticano como um país
independente, junto à autonomia de algumas regiões da cidade de Roma
(propriedades da Igreja) e do território de Castel Gandolfo.
Hoje os Estados Pontifícios se
resumem quase que exclusivamente ao Vaticano, e formam um país independente
dentro da cidade de Roma. É o menor território independente do mundo, mas
completamente dependente dos recursos vindos de fora de suas terras. Sua
população de cerca de mil habitantes dispõe de moeda, banco e correio próprios. Os tesouros acumulados pela Igreja por dois milênios tornam-na incrivelmente rica, e sem dúvida é a única instituição em toda a história a sobreviver durante tanto tempo.
Os Papas da nossa época não têm a
ínfima parte da força que seus predecessores renascentistas tiveram,
mesmo que seu poder temporal ainda exista. É uma sociedade medieval que perdura
no mundo moderno, e que por isso às vezes parece meio deslocada dentro dele. Mas mesmo que os críticos tentem deslegitimar o seu papel, o papado perdura como uma instituição indispensável para a fé do mundo católico contemporâneo.
-- Thiago Amorim
Para saber mais:
"Declínio e Queda do Império Romano" - Edward Gibbon
"Basílica de São Pedro - Esplendor e Escândalo na Construção da Catedral do Vaticano" - R.A. Scotti
"Carlos Magno" - Jean Favier
7 comentários:
O papado nunca se apoiou e nenhuma falsificação de Constantino. Essa fábula que circula no meio protestante não procede. Sem dúvida alguma, este documento entregue por Isidoro Mercator à Igreja, é uma falsificação tardia, tendo sido escrito entre 750 e 850 d.C. Foi demonstrado falso pelo humanista Lorenzo Valla, um assistente do papa em 1440 e repudiado pela Igreja.
Os Estados Pontifícios nada tinha a ver com “doações de Constantino”, eram posses doadas em testamento por reis católicos e fiéis católicos sem herdeiros. Essas propriedades foram ocupadas e adquiridas legalmente pelo governo italiano.
Jesus Cristo disse que não devemos acumular tesouro na terra onde as traças e os ladrões podem roubar. Devemos acumular tesouros no céus. E como aquele que diz ser representante de Jesus Cristo acumulou tanto poder. Quando a Itália de Mussolini invadiu a Etiópia e a Líbia bem que a Igreja Católica apoio essa atitude imperialista. Isso porque a Igreja Católica é mais que uma religião é um Estado e tem ambições de Estado.
A Igreja Católica é uma continuação da idolatria e do paganismo romano. Prova disso é o cultos aos santos uma continuação do culto aos deuses. Afirmar que o papa é o chefe da cristandade sendo que a cabeça da Igreja é Jesus Cristo e a sua mensagem no Evangelho. O papa se arroga chefe como um governante absolutista.
Herbert, você deveria medir as suas palavras meu caro, e não ficar falando baboseiras sem nenhuma prova física ou legalmente formulada.
Leia Os papas de Richard Mcbrien; História de Los papas de Leopoldo von Ranke; Crimes of the papacy de Theodor Griensger; História de la Iglesia católica de Josef Lenzenweger, Complete History the popes of Rome de Louis Marie.
Outras que eu indico Los Marlos papas de E E Chamberlain e The Power of the popes de Pierre Claude François e The Papacy and the civil Power de R W Thompson. Infelizmente boa parte dessas obras estão em inglês. Mas estou tentando traduzir e editalas em português. O nosso mercador editorial carece desse tipo de obra.
Indico tambem History of Latin Christianity de Henry Hart e História da Igreja Cristã de Robert Hastings.
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