quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Muralha da China


O grande desenvolvimento da China dos dias atuais chama atenção em várias partes do mundo. Gigantescas metrópoles surgem em ritmo assustador por todo o país, e uma série desenfreada de construções entre estradas, pontes e aeroportos, parecem brotar do chão como num passe de mágica. Mas mesmo com tantas novidades há algo que ainda é a “cara” da China, que é sinônimo do poderoso país asiático. Trata-se da milenar muralha da China: uma obra tão complexa e colossal, que deixaria qualquer Faraó egípcio com inveja. 

A estrutura estende-se por milhares e milhares de quilômetros, serpenteando entre montes e vales estreitos; desafiando gigantescos precipícios. Em alguns pontos está assentada em terreno tão irregular e inacessível que é difícil para os visitantes acreditarem no que estão vendo. Essa complexa estrutura defensiva foi colocada ali há mais de dois mil anos, com a função de barrar as tribos bárbaras do norte da Ásia, em especial os mongóis, que ameaçavam os domínios do Imperador Chinês (e também para garantir a dominação por trás dos muros, é claro).

A dimensão exata da famosa muralha é até hoje desconhecida, mas é consenso entre os cientistas que deva se aproximar dos oito ou nove mil quilômetros de extensão. Ela atravessa uma área do atual “Centro-Norte” da China, estendendo-se de leste a oeste em sessões nem sempre contínuas. Os materiais construtivos divergem em muitas partes: enquanto em alguns lugares há uso em larga escala da pedra, em outros pontos apenas terra batida e madeira compõem os muros. A terra, apesar de parecer um frágil material, na verdade é muito resistente a ação do tempo devido à maneira que foi trabalhada.

Mas o exato momento em que as pedras, os tijolos e a areia foram assentados, ainda é motivo de discussão entre os estudiosos. Para alguns cientistas, as mais antigas dinastias chinesas estão por trás da construção, antes mesmo da unificação do país: as dinastias subsequentes teriam atuado apenas como ampliadoras e restauradoras da estrutura original. A estrutura, portanto, deve ter aproximadamente dois mil e quinhentos anos em alguns pontos, e apenas alguns séculos de idade em outros. Segundo a tradição, a muralha teria sido erigida sob as ordens do General Meng, que havia sido incumbido da tarefa pelo temível Imperador Qin Shi Huang-Di, fundador da dinastia Qin (lê-se Chin, e assim temos a origem do nome “China”), e considerado o Primeiro Imperador Chinês.

A muralha foi apenas uma das obras faraônicas do Imperador. Até que Qin tivesse unificado o Império, no século III A.C., a China era dividida em vários reinos que digladiavam entre si pelo poder supremo. O primeiro imperador não só os conquistou como ordenou que os nobres dos reinos fossem levados a morar perto de si, na Capital do império, em uma cidade construída especialmente para isso. 120 mil famílias nobres passaram a morar “juntas” do “dia para a noite”, e é claro, um enorme volume de palácios foi construído para tornar-se o lar dessas pessoas. Um relato das dimensões do seu palácio comprova isso, já que após a morte de Qin, e a queda de sua dinastia, diz-se que o palácio real permaneceu em chamas durante cinco dias ininterruptos! Uma verdadeira fogueira apocalíptica!

Se nos assustamos com o volume colossal das obras agitadas dos dias atuais na China, deveríamos imaginar o que os pobres camponeses explorados pelo Imperador devem ter pensado do volume gigantesco de trabalho e material empreendidos nos seus ambiciosos projetos.

Curiosamente, e lamentavelmente, uma última obra empreendida por Qin antes de sua morte foi a grande queima de livros, que destruiu milênios de história chinesa de uma só vez. Ele também perseguiu, matou e exilou diversos estudiosos e pensadores, algo um tanto parecido com atos do governo chinês atual. Talvez a China não tenha mudado tanto. A Muralha da China ainda é mesmo a “cara da China”.

-- Thiago Amorim


Para saber mais:


O Primeiro Imperador da China - Frances Wood