O grande desenvolvimento da China
dos dias atuais chama atenção em várias partes do mundo. Gigantescas metrópoles
surgem em ritmo assustador por todo o país, e uma série desenfreada de
construções entre estradas, pontes e aeroportos, parecem brotar do chão como
num passe de mágica. Mas mesmo com tantas novidades há algo que ainda é a
“cara” da China, que é sinônimo do poderoso país asiático. Trata-se da milenar
muralha da China: uma obra tão complexa e colossal, que deixaria qualquer Faraó
egípcio com inveja.
A estrutura estende-se por
milhares e milhares de quilômetros, serpenteando entre montes e vales
estreitos; desafiando gigantescos precipícios. Em alguns pontos está assentada
em terreno tão irregular e inacessível que é difícil para os visitantes
acreditarem no que estão vendo. Essa complexa estrutura defensiva foi colocada
ali há mais de dois mil anos, com a função de barrar as tribos bárbaras
do norte da Ásia, em especial os mongóis, que ameaçavam os domínios do Imperador
Chinês (e também para garantir a dominação por trás dos muros, é claro).
A dimensão exata da famosa
muralha é até hoje desconhecida, mas é consenso entre os cientistas que deva se
aproximar dos oito ou nove mil quilômetros de extensão. Ela atravessa uma área do atual
“Centro-Norte” da China, estendendo-se de leste a oeste em sessões nem sempre
contínuas. Os materiais construtivos divergem em muitas partes: enquanto em
alguns lugares há uso em larga escala da pedra, em outros pontos apenas terra
batida e madeira compõem os muros. A terra, apesar de parecer um frágil material,
na verdade é muito resistente a ação do tempo devido à maneira que foi
trabalhada.
Mas o exato momento em que as
pedras, os tijolos e a areia foram assentados, ainda é motivo de discussão
entre os estudiosos. Para alguns cientistas, as mais antigas dinastias chinesas
estão por trás da construção, antes mesmo da unificação do país: as dinastias
subsequentes teriam atuado apenas como ampliadoras e restauradoras da estrutura
original. A estrutura, portanto, deve ter aproximadamente dois mil e quinhentos
anos em alguns pontos, e apenas alguns séculos de idade em outros. Segundo a
tradição, a muralha teria sido erigida sob as ordens do General Meng, que havia
sido incumbido da tarefa pelo temível Imperador Qin Shi Huang-Di, fundador da dinastia
Qin (lê-se Chin, e assim temos a origem do nome “China”), e considerado o
Primeiro Imperador Chinês.
A muralha foi apenas uma das
obras faraônicas do Imperador. Até que Qin tivesse unificado o Império, no
século III A.C., a China era dividida em vários reinos que digladiavam entre si
pelo poder supremo. O primeiro imperador não só os conquistou como ordenou que
os nobres dos reinos fossem levados a morar perto de si, na Capital do império,
em uma cidade construída especialmente para isso. 120 mil famílias nobres
passaram a morar “juntas” do “dia para a noite”, e é claro, um enorme volume de
palácios foi construído para tornar-se o lar dessas pessoas. Um relato das
dimensões do seu palácio comprova isso, já que após a morte de Qin, e a queda
de sua dinastia, diz-se que o palácio real permaneceu em chamas durante cinco
dias ininterruptos! Uma verdadeira fogueira apocalíptica!
Se nos assustamos com o volume
colossal das obras agitadas dos dias atuais na China, deveríamos imaginar o que
os pobres camponeses explorados pelo Imperador devem ter pensado do volume
gigantesco de trabalho e material empreendidos nos seus ambiciosos projetos.
Curiosamente, e lamentavelmente,
uma última obra empreendida por Qin antes de sua morte foi a grande queima de
livros, que destruiu milênios de história chinesa de uma só vez. Ele também
perseguiu, matou e exilou diversos estudiosos e pensadores, algo um tanto
parecido com atos do governo chinês atual. Talvez a China não tenha mudado
tanto. A Muralha da China ainda é mesmo a “cara da China”.
-- Thiago Amorim
Para saber mais:
O Primeiro Imperador da China - Frances Wood