Nessas férias o principal
passatempo foi ler alguns livros. Depois de “Hitler”, do Ian Kershaw; “A
batalha do apocalipse”, do Eduardo Spohr; e “Carlos Magno” do Jean Favier, tive
a oportunidade de ler o incrível “Gênios e rivais” do Jake Morrissey. De leitura
agradável e muito interessante, trago-o como dica de livro da vez. Abaixo, um
pequeno relato sobre o que podemos encontrar nas suas páginas.
O Renascimento artístico Europeu
foi um dos acontecimentos mais incríveis já realizados pela raça humana. Boa
parte das maiores obras artísticas e culturais desenvolvidas pelo homem, e
admiradas atualmente, vieram dessa época, que também viu surgir aqueles que
talvez tenham sido os mais importantes artistas da história. A lista é grande:
Michelângelo, Da Vinci, Rafael Sanzi, Bramante... Figuras tão complexas e
surpreendentes quanto os seus talentos.
Os frutos do renascimento e dos
famosos artistas por trás desse movimento fizeram aparecer novas formas de ver
e perceber o mundo. Tão importante quanto isso, fez com que nos séculos
seguintes novos artistas surgissem e desenvolvessem seus próprios talentos. Dois
desses novos artistas, Bernini e Borromini, trouxeram para o século XVII a
disputa que havia existido entre os expoentes do século XVI. Contemporâneos,
ambos tornaram-se figuras conhecidas e requisitadas, sendo criadores e
construtores das maiores jóias do barroco italiano.
A disputa foi acirrada e
tempestiva. Bernini, o preferido do Papa Urbano VIII, era genial e carismático,
agradando a todos que o encontravam. Borromini, por sua vez, dispunha de uma
genialidade à altura, mas era turrão e pouco agradável. Ambos trabalharam nas
obras da Basílica de São Pedro, em Roma, e construíram diversas igrejas, fontes,
praças e palácios na cidade.
Os problemas entre ambos
começaram enquanto eram ainda jovens, durante a construção do Baldaquino do altar
da Basílica. Com desenhos iniciais de Carlo Maderno, o gigantesco dossel de
bronze acabou sendo delegado ao jovem Bernini, que com ajuda e ideias de Borromini,
conseguiu terminar a colossal tarefa. Apesar de ter sido extremamente
importante para o trabalho, Borromini foi posto de lado e transformado em mero “ajudante”
de Bernini. O ódio surgido a partir desse acontecimento perdurou por toda a
vida, fazendo Borromini surtar de raiva ao ouvir falar do concorrente.
Ambos continuaram criando e se
envolvendo nas disputas pelo gosto da elite romana. Apesar de Bernini ser muito
astuto, acabou por se envolver em problemas ao insistir na construção dos
campanários de São Pedro, e por alguns anos foi desacreditado. No futuro, foi
reconsiderado, e novamente elevado à categoria de gênio do barroco, graças a
sua incrível “fonte dos quatro rios”. Entre suas obras mais famosas estão a “Cathedra Petri”
no altar de São Pedro, a estátua de São Longuinho, o túmulo de Urbano VIII e a
Colunata da Basílica de São Pedro.
Borromini nunca foi muito amado
devido ao seu temperamento. Entretanto, construiu obras magníficas como “Sant'Ivo
alla Sapienza”, “Santa Agnese in agone” e o “Oratorio dei filippini”, além de
ter reformado a Basílica de São João Latrão. De certa forma ele teve seu
talento eclipsado pelo de Bernini e morreu tragicamente em 1667, tendo cometido
suicídio. Bernini, que viveu até 1680, foi aclamado como o maior artista do
Barroco e, após receber um convite do Rei Sol, fez uma visita de seis meses à
França.
A briga de egos é o tema do livro,
e ver como eles pensaram e criaram suas obras é extremamente excitante. “Gênios
e Rivais: Bernini, Borromini e a disputa que transformou Roma” é um dos livros
que mais gostei de ler. O terminei em dois dias apenas, e fiquei com aquela
sensação de quero mais no final.
Fica então a dica de leitura!
Grande abraço!
-- Thiago Amorim