sábado, 30 de outubro de 2010

A ilha

A ilha é um filme que nos faz pensar sobre como vivemos e a sociedade que estamos construindo. Contando com toda a “pirotecnia hollywoodiana”, com cenas de ação de tirar o fôlego, não perde seus méritos e é de fato uma obra prima da sétima arte. Como nunca mais escrevi alguma dica de filme, resolvi expor sobre esse, que já estreou há alguns anos, mas é interessante e vale a pena ser visto. No pequeno relato abaixo há diversos spoilers* e muito da minha opinião pessoal. Espero que gostem!

Numa antiga base militar americana em meio ao deserto, um complexo futurista guarda um segredo que pode mudar para sempre as relações sociais do nosso planeta. Uma organização ligada ao governo americano diz oferecer a cura para morte através da clonagem. Entretanto, os clientes dessa organização, não sabem que seus clones (ou agnatos, como são chamados no filme) possuem vida social e tem sentimentos humanos.

Para que os clones permaneçam pacíficos e não desconfiem de nada do mundo lá fora, uma série de mentiras é criada, como uma contaminação global onde só eles escaparam, e a existência de uma ilha, na qual todos terão o direito de viver ao ganhar na loteria. Os segredos da organização correm perigo quando os clones começam a desconfiar que tudo o que se passa dentro do complexo é uma farsa. Alguns fogem e é iniciada uma caçada desesperada em busca dos foragidos. Por fim os clones conseguem salvar a todos e destruir a base secreta. A história se passa no ano de 2019.

O filme mostra o que as inovações tecnológicas e cientificas podem trazer de bom ou ruim para a nossa sociedade. Percebe-se no decorrer da história que a tecnologia facilita em vários pontos da nossa vida, como nos setores de transporte, informação, comunicação, segurança e saúde. Mas também revela os perigos de uma “liberação científica”.

A sociedade é enganada devido à maravilha que a ciência proporciona: A extinção da morte ou o prolongamento da vida para quem puder pagar. Os clones são vistos como produtos e tratados de igual forma, havendo de fato uma mercantilização da vida, mesmo quando os clientes não conheçam a verdade sobre o negócio. Dessa forma a empresa prestadora de serviços, ficou livre para atuar da maneira como desejasse sem precisar ser fiscalizada, infringindo diversas leis éticas. A tecnologia cegou o homem, e nesse sentido foi maléfica. Houve a criação de um segundo holocausto, que como o nazista, gerava lucros.

Também é explorado o sentido de alienação. Os clones ficam “cegos”, presos ao seu mundo devido ao grande grau de controle e manipulação que a tecnologia proporciona. Sem saber, os clones trabalhavam para o progresso da instituição e, consequentemente, para suas próprias mortes.

-- Thiago Amorim


*Spoilers são informações que revelam partes, ou o todo, do enredo de histórias e filmes.

domingo, 10 de outubro de 2010

Teodora e Justiniano

O Império Romano do Ocidente há meio século havia evaporado sob as invasões bárbaras. Em contrapartida, no leste, Bizâncio ainda mantinha-se forte e em breve experimentaria o esplendor em sua forma mais criativa e visível: a arquitetura. O responsável por esse avanço seria o grande Imperador Justiniano I. Seu governo traria prosperidade irrestrita para os Bizantinos, inclusive a recuperação da cidade de Roma e outras províncias perdidas.

Representação do Imperador Justiniano e sua Corte em um mosaico na Catedral de Ravena

O novo Imperador não vinha de família nobre, havia ascendido através do exército Romano e era muito popular entre as massas. Mas esse quadro não se repetia entre a nobreza. A inveja e a raiva por não estarem no poder faziam com que os nobres debochassem de Justiniano. Em breve, eles teriam muito mais poder de fogo, muito mais sobre o que falar. Isso aconteceu porque o Imperador caíra de amores por uma artista de circo, Teodora. Segundo as más línguas ela já havia sido até mesmo prostituta. Isso, é claro, não impediu Justiniano de amá-la e transformá-la em Imperatriz Consorte, dividindo o poder consigo. Era tamanho o poder de influência de Teodora, que Justiniano fazia tudo que ela lhe pedisse.

Representação de Teodora e sua Corte em um mosaico na Catedral de Ravena

Seguindo os conselhos da Imperatriz, ele ergueu magníficas obras públicas na capital do Império. Apesar da prosperidade que Bizâncio alcançou em seu governo, aparecia, cada vez com mais frequência, a insatisfação por causa dos pesados impostos e também pela inveja da Corte. Assim, deflagrou-se uma revolta que ameaçou o poder do casal imperial e abalou os alicerces de Bizâncio. Justiniano, assustado, decidiu fugir e tentou levar Teodora. A Imperatriz, firme como sempre, o obrigou a voltar até os locais da revolta e repelí-la. Justiniano assim o fez e venceu a batalha contra os revoltosos. Cerca de 30.000 pessoas morreram num único dia.

Basílica Hagia Sophia - hoje um museu em Istambul, na Turquia
Os minaretes (as 4 torres da basílica) não existiam até a conquista turca no século XV

A seguir, coube a ele a tarefa de reconstruir a capital. Diversas igrejas foram destruídas, incluindo a Basílica Imperial e a Igreja dos Santos Apóstolos. Justiniano não só mandou as reerguer, como as transformou nas maiores jóias da arquitetura bizantina. A Basílica de Santa Sofia foi tão bem projetada e construída que ainda hoje permanece de pé em Istambul (a cúpula desabou e precisou ser refeita algumas vezes por causa de terremotos, mas o corpo da igreja continua lá). A Igreja dos Santos Apóstolos, contudo, não teve a mesma sorte. Após a queda de Bizâncio, foi completamente destruída e se ergueu sobre ela uma mesquita em homenagem ao conquistador da cidade de Constantinopla.

Representação de como seria a Igreja dos Santos Apóstolos

Após duas décadas de união, Teodora faleceu e deixou Justiniano sozinho no poder. O Imperador nunca mais se mostrou feliz. Na ocasião da própria morte teve seu corpo enterrado ao lado da amada, onde permaneceram juntos por mil anos, até que seus túmulos reais fossem revirados pelos cruzados e destruídos pelos turcos.

-- Thiago Amorim


Para saber mais:


Declínio e Queda do Império Romano - Edward Gibbon


Bizâncio: A ponte da Antiguidade para a Idade Média - Michael Angold

sábado, 9 de outubro de 2010

Outubro



Oitavo mês do calendário romano, outubro tem seu nome derivado justamente disso. Na verdade, os meses subseqüentes a agosto preservaram seu nome de acordo com a colocação no esquema de formação do ano; não foram utilizados como homenagem a nenhum Imperador ou divindade romana.

Essa preservação foi seguida à risca, de forma que mesmo após o calendário ter passado a contar com doze meses, os nomes continuassem. Com a constituição do calendário Gregoriano (formado para consertar os erros em datas e eventos do anterior, o Juliano), os meses permaneceram com seus nomes inalterados.

Outubro tem datas importantes no Brasil. É o mês das eleições (que sempre são realizadas entre o primeiro e o último domingo do mês), das crianças, dos professores e da padroeira do Brasil. Seguindo o "the american way of life", o "halloween", data tipicamente americana, tem aparecido com frequência por aqui também. Em Santana temos tradicionalmente a festa de São Cristóvão, com carreata e cavalgada.

-- Thiago Amorim