quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Renascimento

A criação de Adão - Capela Sistina

Tendo Roma caído sob as mãos bárbaras, ninguém mais tinha o controle da Europa. Um período obscuro e confuso tomou conta do continente, enquanto vários senhores tentavam dominar os restos do Império. Uma nova sociedade, uma nova forma de ver o mundo. E após séculos de confusão, algo se destacou entre os escombros: uma instituição que monopolizaria todas as esferas da vida européia na época, a Igreja Católica.

Vinda diretamente do Império Romano, tendo herdado seu legado, a Igreja é mais antiga que qualquer país Europeu. Durante séculos manteve seus próprios domínios, os Estados Papais, e de tão poderosa fazia estremecer até o mais rico dos reis.

Mas após séculos conturbados, que duraram aproximadamente até o ano mil, a Europa sofria novas reviravoltas. O comércio, as cidades e as Cruzadas trouxeram novas perspectivas. Uma espécie de reflorescimento econômico mexeu nos alicerces do poder, e o aumento da população e da riqueza permitiu o surgimento de novos personagens, os ricos comerciantes, que mais tarde seriam conhecidos como burgueses.
A Última Ceia - Leonado Da Vinci
Essa nova classe social que, ainda no tempo gótico, despontava na Europa, trouxe um caminho sem volta para o feudalismo: o seu fim. Livres da servidão, os comerciantes viajavam pela Europa, África e Ásia, entrando em contato com povos e lugares diversos. Foi apenas questão de tempo até que as ideias do passado mexessem com o presente, e mudassem completamente o futuro. Quando os escritos gregos foram redescobertos, tendo a burguesia se interessado apressadamente por eles, o homem voltou a questionar o universo.

Ainda no início do século XV, vários pensadores e artistas já se concentravam nos pequenos estados italianos, e o cerco e a queda de Constantinopla, em 1453, apenas apressou o processo. A ameaça islâmica no oriente trouxe muitos estudiosos gregos para a Itália, que em poucos anos tornou-se o novo centro da cultura européia, conduzindo o continente para o Renascimento artístico e cultural.

Costuma-se dizer que o renascimento trouxe mudanças significativas no modo de pensar europeu e, consequentemente, do mundo. Mas a verdade é que as mudanças sociais, políticas e econômicas que agitaram a Europa e o resto do planeta no período, é que mudaram o modo de ver o mundo. Após séculos de ressurgimento de cidades, de construções grandiosas para glorificar Deus e de grandes fortunas acumuladas através do rentável comércio local e internacional, o mundo europeu sofreu uma nova reviravolta.

Os escritos de Platão e Aristóteles, além, é claro, de diversos outros filósofos, pensadores e estudiosos gregos e romanos, possibilitaram aos europeus uma nova forma de olhar para o universo. O poder da Igreja talvez não fosse tão justo assim, e dedicar a vida à glorificação divina podia não ser tão interessante. A visão antropocêntrica tomava conta do pensamento do homem daquela época. Era ele, e não Deus, o centro do Universo.

Essa maneira de observar o mundo a partir do próprio homem é evidenciada na arte e arquitetura produzidas no período. Se o homem substitui Deus como agente atuante e transformador do mundo, sua percepção do real e do todo deve ser evidente em todos os campos do conhecimento. O homem racionalizava suas ambições e as transportava para suas obras.
Cúpula de Brunelleschi - Florença
A Cúpula de Brunelleschi tem um papel central nesse novo esquema. Mais de um século havia se passado desde o início da construção da catedral em Florença, tendo o seu povo se resignado pela incapacidade de realizar uma obra tão colossal. Vencidas as forças da natureza, e desafiando o próprio tempo, o arquiteto/escultor renascentista provou ser capaz de realizar o impossível. A cúpula será, a partir de então, um tema recorrente. O homem conseguiu dominar a natureza e colocá-la ao seu próprio serviço, ainda que nesse caso quisesse glorificar Deus.

Essa é, inclusive, uma das contradições do período. Apesar de ser uma época racional, Deus e os temas santos aparecem em grande parte das obras renascentistas, inclusive naquelas encomendadas pelos burgueses ricos. Ainda assim, a própria Igreja não exigirá apenas temas religiosos dos seus artistas, mas também pessoas, paisagens e situações diversas. E os artistas, por sua vez, rechearão as obras religiosas com temas pagãos.

O desenvolvimento da perspectiva possibilitará a realização dessas novas necessidades artísticas que surgem. Construções esquemáticas, planos centralizados, formas geométricas “puras”. Em cada obra observada pode-se encontrar elementos que confirmem isso. Da Vinci, com a Santa Ceia e Jesus ao centro; Michelangelo com a Sistina e o homem como cópia de Deus; Bramante e seu tempietto de formas simétricas e centralizadas. Todas as obras evidenciam essa harmonia, pureza e simetria almejadas.

Pietà - Michelangelo
A expressividade desse ser que agora se vê tão grandioso e chefe de si mesmo, o próprio homem, aparece ainda na pintura, escultura e literatura renascentistas. Na escultura, as diversas estátuas produzidas no período demonstram esse jogo de sentimentos que brotam da alma humana. A Pietà de Michelangelo é um desses exemplos, em que Maria, tão jovem e bela (apesar de provavelmente já ser uma senhora de idade na época da morte de Cristo), é retratada com um misto de dor e contemplação junto ao seu filho morto.

Na literatura um dos maiores expoentes do período é Nicolau Maquiavel, com sua obra “O Príncipe”. Nela o autor expõe a famosa ideia de que “os fins justificam os meios”, e que, portanto, os senhores, príncipes e reis podem, e devem, utilizar-se de quaisquer estratégias, por mais abomináveis que sejam, para alcançar seus objetivos.

Mas a revolução artística, que começou com os mercadores ricos da Itália e logo foi abraçada pela Igreja Católica e por todo o continente, iria em breve mudar a situação política da Europa. A reconstrução pela qual Roma passará no “quatrocento” e “cinquecento”, com a criação de diversos palácios, igrejas, praças, ruas e conventos, será absurdamente dispendiosa. Os custos para essa empreitada virá diretamente dos donativos oferecidos pelos fieis à Igreja. Paralelo a isso, panfletos, livros e ideias circulam livremente pelo continente. O resultado não podia ser diferente, e um problema jamais esperado pela Igreja surgirá: a Reforma Protestante!

Grande abraço!

- Thiago Amorim


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