Basílica de São Marcos - Vista da praça |
Localizada no centro da cidade de
Veneza, ao lado do Palácio dos Doges e da famosíssima Praça de São Marcos, a Basílica
é talvez a mais oriental das igrejas do Ocidente. Durante séculos simbolizou a
estabilidade e a grandeza da Sereníssima República de Veneza, ostentando joias preciosas
e fabulosos tesouros. Sua planta em estilo bizantino baseou-se abertamente na
famosa e lendária Igreja dos Santos Apóstolos de Constantinopla, com seu
formato de cruz grega, encimado por cinco cúpulas grandiosas.
Com cerca de 1.200 anos é uma das
igrejas mais antigas ainda de pé no mundo. Sua construção iniciou-se no fim do
século IX e, após algumas revoltas e destruições, perdurou por todo o tempo em
que a República de Veneza era importante, ou seja, pelos próximos setecentos
anos. A cada contato com uma terra distante, os mercadores venezianos traziam
artefatos para presentear a igreja, tornando-a incrivelmente rica.
Planta Baixa da Basílica |
A coleção de tesouros da basílica
é curiosa, e em alguns casos duvidosa. Tudo foi garimpado através das
conquistas da república veneziana em terras distantes, com guerras de
extermínio e exploração dos lugares atacados. Os cavalos que decoram a fachada
da Basílica, por exemplo, vieram do antigo hipódromo de Constantinopla, cidade
esta despojada dos seus magníficos tesouros da Antiguidade pela ambição do Doge
de Veneza durante a quarta cruzada.
As relíquias de São Marcos, que
deram o nome a Basílica, também têm uma história interessante. Foram
encontradas coincidentemente pouco tempo depois do desaparecimento dos restos
mortais do túmulo de Alexandre, o Grande, em Alexandria no Egito. Para alguns,
as relíquias pertencem ao famoso general Macedônico, enquanto para outros
pertencem de fato ao Santo.
A igreja é completamente decorada com
mármores de vários tipos, e dos mais diversos lugares. Também há uma
fabulosa coleção de mosaicos bizantinos, todos esplendorosamente recheados de
generosas quantidades de ouro. E não se deve esquecer o incrivelmente belo e
fabuloso “Pala D’Oro”, um retábulo feito por ourives constantinopolitanos no
século X e ricamente decorado em ouro, metais e gemas preciosas, como rubis, safiras
e esmeraldas. Entre as relíquias ainda há o “Ícone da Mãe de Deus de Nikopeya”,
roubada de Constantinopla no século XIII, e que figura entre os mais
importantes artefatos religiosos presentes na Basílica.
Estátua de São Marcos - Fachada da Basílica |
As cúpulas de madeira revestidas
com placas de cobre que exibe atualmente foram anexadas num período tardio,
para aproximar-se do gótico do Palácio dos Doges, o que explica porque no
interior do edifício a igreja tem cúpulas achatadas, lembrando pires, e na
parte exterior, cúpulas tão altas e afuniladas. Tanto o interior quanto o
exterior são recheados de estátuas de santos e mártires da Igreja Católica.
O famoso campanário, construído
diante da Basílica, faz parte do seu conjunto arquitetônico e é uma réplica de
mesmas proporções de um mais antigo, destruído em 1902. A reconstrução demorou
dez anos, tendo sido o edifício consagrado em 1912 por ocasião da festa de São
Marcos.
Nikopeya - Ícone |
Mas o triunfo dos venezianos não
duraria para sempre. Com o fim do Império Bizantino e o descobrimento da
América, seus comerciantes perderiam o lucrativo comércios com a Ásia, e a
república entraria em ampla decadência. Quando Napoleão conquistou a Europa,
Veneza caiu em suas mãos e foi despojada de seus tesouros. Agora tudo indicava
que a gulosa república pagaria seus pecados do passado na mesma moeda.
O destino, entretanto, não seria
tão traiçoeiro. Após a queda do egocêntrico Imperador francês, ela seria
ressarcida pelos seus prejuízos, mas economicamente continuaria arruinada. Ainda
assim, os erros do passado acabaram se mostrando um acerto para o presente: a
coleção de tesouros da cidade, aliada a toda a história do lugar, a salvou da
derrocada financeira através do turismo moderno.
Com uma história cheia de roubos
e saques, cujo Império Bizantino foi sua maior vítima, a Basílica de São Marcos,
e a própria cidade de Veneza, na verdade tornaram-se uma importante lembrança
daquela sociedade. Quando Constantinopla caiu no século XV, suas instituições
foram desmanteladas pelo Império Otomano e várias joias arquitetônicas e
culturais perdidas. Não fosse a “guarda” dos artefatos pelos venezianos, muito
mais coisas teriam se perdido para sempre. O que nos mostra mais uma vez os
irônicos caprichos da história.
Grande abraço!
-- Thiago Amorim