terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Movimento Moderno

Palácio da Alvorada - Brasília
O movimento moderno foi um daqueles eventos que mudam completamente o rumo da humanidade. De repente, em diferentes lugares do mundo e quase ao mesmo tempo, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música, o teatro, o design, a literatura, sofreram uma mudança de paradigma sem precedentes. O modelo tradicional de cultura sofreu um choque tremendo, recebendo grande rejeição, e, finalmente a arte começou a ceder espaço para o abstracionismo.

Apesar de parecer surpreendente que tudo isso tenha acontecido tão “de repente”, a situação na Europa e no resto do mundo à época era mais que propícia para essa sucessão de acontecimentos. A Revolução Industrial havia trazido um progresso técnico como jamais havia sido visto, e a ascensão da burguesia, e consequentemente do capitalismo, trouxeram recursos que podiam financiar os novos artistas e intelectuais daquela época, inaugurando uma nova forma de mecenato. Aliado a tudo isso, a fotografia, o vapor, o telégrafo e as ferrovias tornaram-se um grande divisor de águas. 

Durante séculos, as ideias dos homens eram difundidas entre pessoas que se conheciam, ou que conviviam na mesma região. Isso evitava um campo maior de ação para ideias vanguardistas, e inibia a produção artística e cultural a pólos de atração específicos. Os novos meios de difusão de notícias, e de comunicação, permitiram um maior contato entre pessoas de diversos lugares do mundo; o vapor e as ferrovias propiciaram as viagens necessárias para a troca de ideias e a propulsão da internacionalização das vanguardas artísticas.

A fotografia foi um dos passos mais importantes para a mudança da arte. Com o realismo das fotos, a arte sofreu uma grave crise de identidade, e entrou num momento conturbado. A saída encontrada pelos artistas para superar essa crise existencial estava num modo mais dinâmico de produzir arte, de forma que em poucos anos diversas correntes artísticas surgiram, como o impressionismo, o expressionismo, o futurismo, o construtivismo, o De stijl, entre outros, uma sobrepondo-se a outra, e se completando no caminho de construção para uma arte com a cara da modernidade.

É claro que uma mudança como essa no mundo da arte influenciaria completamente todos os campos da cultura humana. Assim, a literatura, o cinema (que surgia na época), a arquitetura, a música, a escultura e todos os campos do saber sofreram grandes alterações. Diversos expoentes advindos dessa nova forma de produzir elementos culturais tornaram-se ícones da sociedade moderna: Picasso e o cubismo, Monet e o impressionismo, Salvador Dalí e o surrealismo, Rodin e o seu famoso “Pensador”, Le Corbusier e os cinco pontos essenciais para uma boa arquitetura, Frank Lloyd Wright e sua casa da cascata, a Bauhaus de Gropius, o arranha-céu de Mies Van Der Rohe, entre outros. Personagens complexos e fantásticos, que trouxeram ao mundo uma revolução artística e cultural tão grande quanto o foi o Renascimento do século XV.

A partir desse ponto, a arquitetura assume uma nova particularidade e abandona os adornos do ecletismo em voga. Ela passa a se concentrar na funcionalidade e na forma, utilizando para isso plantas livres, fachadas limpas, cores neutras, e muito concreto e vidro! Le Corbusier sonha com uma cidade perfeita, impecável, onde grandes bulevares, arranha-céus enormes e gigantescas avenidas reinariam supremos diante do passado apagado. Seus planos se frustraram, e Paris foi salva. Mas o seu sonho se concretizaria pelas mãos de um presidente ousado, um arquiteto egocêntrico e um controverso urbanista humanista, na capital de um país dos trópicos: Brasília. Os diversos problemas que a gigantesca cidade criou nos últimos cinquenta anos provam que apesar de o projeto moderno ser utopicamente belo, a desigualdade social permeia as suas conquistas. 

-- Thiago Amorim