terça-feira, 15 de maio de 2012

Pietà


Adoro o Michelangelo e por isso faço pesquisas sobre sua vida e suas obras sempre que possível. Devido à sua personalidade egocêntrica e paranoica ele fez muitos inimigos em vida, mas também deixou uma legião de fãs incontestáveis por toda a história. Entre as mais famosas das suas empreitadas certamente estão a capela sistina e a construção da Basílica de São Pedro em Roma (na qual obteve ajuda de diversos outros artistas). Para mim, entretanto, a Pietà é incontestavelmente o maior tesouro artístico legado por esse gênio renascentista à humanidade.

Abaixo, segue um breve relato sobre a obra. Divirtam-se!

Michelangelo era um jovem escultor de apenas 23 anos quando realizou essa incrível obra de arte. Com cerca de 1,70m de altura por 1,90m de largura, a Pietà é uma das mais famosas estátuas em mármore carrara do mundo, e provavelmente a mais valiosa entre todas elas.

Foi encomendada em 1498, pelo cardeal francês Jean de Billheres, para a capela dos reis da França, na antiga Basílica de São Pedro, em Roma. Quando ficou pronta chamou a atenção de todos que a viam, e tornou-se rapidamente uma das obras mais aclamadas e copiadas no mundo.

Finalizada em 1499, mostra uma jovem virgem Maria segurando o Cristo morto em seus braços. As dimensões entre ambos são intencionalmente distorcidas, de forma que a sensação de sofrimento e perda da virgem, junto à fraqueza do Deus recentemente morto, seja enaltecida diante dos olhos dos observadores. O artista também a deixou mais jovem, pois dizia que “aqueles que têm fé jamais envelhecem”.

A estátua é uma das mais bem executadas em toda a história. Tamanhos foram a acurácia e talento empreendidos no trabalho, que as unhas e, até mesmo, as artérias das figuras são percebidas pelos observadores.

A Pietà já foi reposicionada na Basílica diversas vezes, devido à reconstrução de São Pedro no século XVI. Hoje está disposta na primeira capela do lado direito da igreja, protegida por um enorme painel à prova de balas. Tal radicalismo na proteção da estátua, explica-se pelo incidente ocorrido na década de 1970, quando um louco avançou sobre o objeto e o golpeou com um martelo, danificando-lhe o rosto, o braço, os dedos e a cabeça. Apesar de esse ser o mais famoso e fatídico acidente envolvendo-a, não foi o único, tendo sido a estátua danificada e restaurada em anos anteriores.

Ela é a única obra de arte assinada por Michelangelo, e considerada um dos seus melhores trabalhos. A beleza e qualidade da peça evidenciam a técnica e majestade das inúmeras realizações artísticas do famoso escultor, arquiteto, poeta e pintor renascentista.

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- A estátua é feita completamente em mármore carrara, mas foi tão bem polida e trabalhada que sua aparência assemelha-se ao marfim;

- Várias partes da estátua foram perdidas com os danos sofridos no ataque de 1972. Seu nariz nunca foi recuperado, e os restauradores tiveram de dar-lhe um novo, utilizando o mesmo mármore do qual ela foi feita;

- A restauração da década de 1970 foi realizada pelo brasileiro Deoclécio Redig de Campos, um paraense que era chefe de laboratório de restauração, e diretor dos Museus Vaticanos;

- Laszlo Toth nunca foi responsabilizado criminalmente pelo ataque à estátua, mas ficou alguns anos preso em uma clínica psiquiátrica. Ele hoje vive na Austrália;
- As assinaturas em obras de arte não eram comuns no Renascimento, e Michelangelo só assinou o trabalho por medo de não ser reconhecido em anos posteriores;
- A Pietà é única obra assinada pelo neurótico artista;
Para saber mais:
- Michelangelo e o Teto do Papa  - Ross King
- Michelangelo - Nadine Sautel

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Igreja dos Santos Apóstolos


Construída na nova Capital do Império Romano, por Constantino, o Grande, a Igreja dos Santos Apóstolos ficou conhecida em sua época como uma das mais belas construções religiosas do mundo cristão. Ricamente decorada com diversos tipos de mármores, gemas preciosas, grandes quantidades de prata e um fabuloso teto de ouro, somente a Basílica Hagia Sophia lhe fazia sombra em fama e importância.

Essa coexistência com a basílica gigante, que a história faria com que a obscurecesse, não tirava os louros ou glórias do famoso edifício. A Igreja dos Santos Apóstolos era muito mais visitada, pois estava localizada no “centro novo” de Constantinopla, próxima aos locais de comércio e passagem de estrangeiros, fiéis e visitantes de todos os lugares da Europa, Ásia e África. A fama era justa. Nesse templo ficavam localizados os túmulos e mausoléus dos imperadores bizantinos desde Constantino, e também as relíquias de santos e mártires da igreja Ortodoxa.
Reprodução em computação gráfica da possível forma da Igreja dos Santos Apóstolos,
 por volta do século XII . Apesar de ter sido construída em forma de cruz grega,
o braço oriental da igreja foi alongado, para abrir espaço para um átrio
Quando construída, “Santos Apóstolos”, como o nome sugere, tinha o objetivo de guardar as relíquias de todos os apóstolos e discípulos de Cristo. Após anos e anos de buscas, somente as relíquias de Santo André, São Lucas e São Timóteo foram adquiridas, e a igreja acabou sendo dedicada apenas aos três. Sua construção iniciou-se por volta do ano 330 D.C., supostamente por Constantino, mas foi a reconstrução feita por Justiniano ou Teodora, e consagrada na véspera do dia de São Pedro de 550 D.C. que a tornou tão famosa e importante.

Possível Planta Baixa da
Igreja dos Santos Apóstolos
Suas formas são pouco conhecidas. Ainda assim, documentos do século XI e XII a descrevem como uma basílica em forma de cruz grega, projetada pelos mesmos arquitetos de Hagia Sophia. Os quatro braços da cruz eram adornados com cúpulas imensas, tendo sido incorporada mais uma ao transepto da igreja, de forma a tornar o conjunto mais harmonioso. Seus tesouros eram colossais, já que grandes quantidades de peregrinos a visitavam todos os anos. Tanta fama e riqueza certamente atraíam olhos cobiçosos por toda a Europa, e o povo de Constantinopla temia qualquer movimentação militar rumo à sua rica cidade.

Infelizmente, em 1204, o saque de Constantinopla confirmou os temerosos presságios dos místicos habitantes de Constantinopla. A cidade foi arrasada e a igreja completamente saqueada. Até mesmo os túmulos dos reis foram revirados; Joias e tesouros inestimáveis ali contidos seriam roubados e levados para portos cristãos na Itália. Segundo relatos de testemunhas, a coroa do Imperador Heráclio foi arrancada de sua cabeça com os cabelos do defunto ainda grudados nela. Seguiu-se então um período obscuro no Império Bizantino, cujo controle estava em mãos ocidentais. Esse período durou quase 60 anos, até que o império fosse restaurado.

No início do século XIV a basílica foi mais uma vez reformada e por um breve período de tempo vislumbrou-se um pouco do seu glorioso passado. Com o enfraquecimento de Bizâncio e a inevitável queda do Império, ela sucateou-se novamente. Quando os turcos invadiram e tomaram a cidade, a igreja estava praticamente em ruínas. Ela passou a ser a sede do Patriarcado Ortodoxo por alguns anos, mas foi destruída pelos Otomanos em anos posteriores para dar lugar à mesquita Fatih (mesquita do conquistador, em honra à Memeth II, o Sultão responsável pela queda de Constantinopla).

Hoje nada resta da famosa Igreja de Constantinopla. Os povos que a visitaram, há muito desapareceram e o próprio império deixou de existir. “Santos Apóstolos”, mais que Hagia Sophia (convertida à força ao culto muçulmano), evidencia a agonia e a derrocada de um império milenar. Os muros foram postos abaixo; um novo mundo erguido em seu lugar.

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

As fontes asseguram que a Basílica de São Marcos, em Veneza, tem seu desenho inspirado na Igreja dos Santos Apóstolos, o que nos mostra como a construção deve ter sido realmente fabulosa;

Alguns dos tesouros de “São Marcos” pertenciam antes à famosa igreja constantinopolitana;

“Santos Apóstolos” era a segunda igreja mais importante para os cristãos ortodoxos, algo como a basílica de São Pedro é hoje para os católicos do mundo todo;


Link do projeto Byzantium 1200, onde pode-se ver mais imagens em computação gráfica da famosa igreja:  http://www.arkeo3d.com/byzantium1200/apostles.html

quarta-feira, 28 de março de 2012

A viagem à Lua!



Inspirado pelo filme “Hugo” do Scorsese, resolvi postar o vídeo daquele que talvez tenha sido o primeiro filme “fantástico” da história: “A viagem à Lua”, do George Meliés! O roteiro baseia-se na obra de Júlio Verne, e, como o título sugere, mostra uma improvável viagem de seis intrépidos aventureiros até a lua.

Apesar da época em que foi produzido, o filme já traz elementos do que seria utilizado em larga escala pelo cinema mundial no futuro: os efeitos especiais!
Vejam, e divirtam-se!

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Basílica Hagia Sophia


Basílica Hagia Sophia em Istambul
Construída no centro político e cultural do império bizantino, a basílica Hagia Sophia foi durante mil anos o maior templo religioso do mundo cristão. Suas formas eram tão grandiosas e sublimes que, antes mesmo da queda de Constantinopla e o triunfo do império Turco-Otomano, já influenciava a arquitetura islâmica, tendo sido adotada por esta última como modelo para as mesquitas em diversos lugares da Europa, da Ásia e da África.

Durante o reinado de Constantino, quando Roma ainda era um Império só, a cidade de Constantinopla foi fundada e ganhou uma basílica Imperial, a de Santa Sofia. Ela foi destruída devido a revolta popular que se seguiu ao afastamento do patriarca João Crisóstomo e reconstruída em 415. Sob o reinado de Justiniano, em 532, a igreja foi destruída mais uma vez na famosa revolta de Nika, e uma nova reconstruída no local. Essa nova construção é a mesma que vemos nos dias atuais, após incríveis 1475 anos!
A obra foi encomendada pelo Imperador Justiniano I que exigia um edifício tão grandioso quanto os cofres do Império pudessem pagar. Os responsáveis por seu projeto e execução foram os gregos Isidoro de Mileto, que era médico, e Antêmio de Trales, um matemático. Os dois analisaram cuidadosamente as melhores formas a ser empregadas na nova estrutura e concordaram com a ideia de uma cúpula gigantesca assentada sobre três naves igualmente grandiosas.

Os trabalhos seguiram por cinco anos ininterruptos, utilizando os melhores materiais disponíveis. A pressa na construção, entretanto, trouxe problemas logísticos e partes do projeto foram modificadas para se adequar a esses contratempos. Além disso, os cálculos para a resistência da cúpula não foram bem executados e sérios problemas estruturais comprometeram diversos pontos da basílica em anos posteriores. A solução encontrada para manter a basílica de pé, está nos contrafortes gigantescos que podem ser vistos atualmente no lado exterior do edifício.

Com tudo pronto, os Imperadores Justiniano e Teodora inauguraram a gigantesca estrutura. Ela havia sido ricamente decorada com enormes quantidades de ouro em motivos florais e imagens de santos, mas evitou-se a utilização de ícones escultóricos, devido às inconsistências nos dogmas da igreja sobre a veneração de tais artefatos.

A basílica impressionou a todos desde a sua construção, e mesmo que por duas vezes a cúpula tenha desabado e precisado ser refeita, o edifício que se encontra hoje em Istambul é o mesmo utilizado por Justiniano e sua corte na consagração dois dias após o natal de 537.
Reconstituição da Basílica em três fases: A primeira erigida por Constantino,
a segunda inaugurada em 537 e a última, e atual,
com o novo domo após o colapso de 557
Após quase mil anos servindo como templo cristão ortodoxo*, os turcos conquistaram a cidade e converteram a igreja em mesquita. Os mosaicos e imagens floridos de santos e mártires foram cobertos por espessas camadas de cal. Quatro gigantescos minaretes foram erigidos e o credo ortodoxo silenciado para sempre. Pelos próximos quinhentos anos, diversas mesquitas seriam construídas na cidade, tendo como inspiração a grandiosa basílica. Hoje ela é um museu em Istambul, na Turquia, antiga Constantinopla, e continua encantando peregrinos e visitantes de todas as partes do mundo.

Grande Abraço!

-- Thiago Amorim

* Após o saque de Constantinopla, em 1204, pelos cruzados, a Basílica foi consagrada como templo católico romano, e assim permaneceu até 1261, quando a cidade foi reconquistada pelos bizantinos e a igreja “reconvertida” para o credo ortodoxo.

Para saber mais:

A queda de Constantinopla - Steven Runciman
1453: A guerra Santa por Constantinopla e o confronto entre o Islã e o Ocidente - Roger Crowley
Hagia Sophia recém restaurada
Link: http://www.arkeo3d.com/byzantium1200/hagia.html (Hagia Sophia- reconstituição pelo projeto Byzantium 1200)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Gênios e Rivais: Bernini, Borromini e a disputa que transformou Roma

Nessas férias o principal passatempo foi ler alguns livros. Depois de “Hitler”, do Ian Kershaw; “A batalha do apocalipse”, do Eduardo Spohr; e “Carlos Magno” do Jean Favier, tive a oportunidade de ler o incrível “Gênios e rivais” do Jake Morrissey. De leitura agradável e muito interessante, trago-o como dica de livro da vez. Abaixo, um pequeno relato sobre o que podemos encontrar nas suas páginas.

O Renascimento artístico Europeu foi um dos acontecimentos mais incríveis já realizados pela raça humana. Boa parte das maiores obras artísticas e culturais desenvolvidas pelo homem, e admiradas atualmente, vieram dessa época, que também viu surgir aqueles que talvez tenham sido os mais importantes artistas da história. A lista é grande: Michelângelo, Da Vinci, Rafael Sanzi, Bramante... Figuras tão complexas e surpreendentes quanto os seus talentos.

Os frutos do renascimento e dos famosos artistas por trás desse movimento fizeram aparecer novas formas de ver e perceber o mundo. Tão importante quanto isso, fez com que nos séculos seguintes novos artistas surgissem e desenvolvessem seus próprios talentos. Dois desses novos artistas, Bernini e Borromini, trouxeram para o século XVII a disputa que havia existido entre os expoentes do século XVI. Contemporâneos, ambos tornaram-se figuras conhecidas e requisitadas, sendo criadores e construtores das maiores jóias do barroco italiano.

A disputa foi acirrada e tempestiva. Bernini, o preferido do Papa Urbano VIII, era genial e carismático, agradando a todos que o encontravam. Borromini, por sua vez, dispunha de uma genialidade à altura, mas era turrão e pouco agradável. Ambos trabalharam nas obras da Basílica de São Pedro, em Roma, e construíram diversas igrejas, fontes, praças e palácios na cidade.

Os problemas entre ambos começaram enquanto eram ainda jovens, durante a construção do Baldaquino do altar da Basílica. Com desenhos iniciais de Carlo Maderno, o gigantesco dossel de bronze acabou sendo delegado ao jovem Bernini, que com ajuda e ideias de Borromini, conseguiu terminar a colossal tarefa. Apesar de ter sido extremamente importante para o trabalho, Borromini foi posto de lado e transformado em mero “ajudante” de Bernini. O ódio surgido a partir desse acontecimento perdurou por toda a vida, fazendo Borromini surtar de raiva ao ouvir falar do concorrente.

Ambos continuaram criando e se envolvendo nas disputas pelo gosto da elite romana. Apesar de Bernini ser muito astuto, acabou por se envolver em problemas ao insistir na construção dos campanários de São Pedro, e por alguns anos foi desacreditado. No futuro, foi reconsiderado, e novamente elevado à categoria de gênio do barroco, graças a sua incrível “fonte dos quatro rios”. Entre suas obras mais famosas estão a “Cathedra Petri” no altar de São Pedro, a estátua de São Longuinho, o túmulo de Urbano VIII e a Colunata da Basílica de São Pedro.

Borromini nunca foi muito amado devido ao seu temperamento. Entretanto, construiu obras magníficas como “Sant'Ivo alla Sapienza”, “Santa Agnese in agone” e o “Oratorio dei filippini”, além de ter reformado a Basílica de São João Latrão. De certa forma ele teve seu talento eclipsado pelo de Bernini e morreu tragicamente em 1667, tendo cometido suicídio. Bernini, que viveu até 1680, foi aclamado como o maior artista do Barroco e, após receber um convite do Rei Sol, fez uma visita de seis meses à França.

A briga de egos é o tema do livro, e ver como eles pensaram e criaram suas obras é extremamente excitante. “Gênios e Rivais: Bernini, Borromini e a disputa que transformou Roma” é um dos livros que mais gostei de ler. O terminei em dois dias apenas, e fiquei com aquela sensação de quero mais no final.

Fica então a dica de leitura!

Grande abraço!

-- Thiago Amorim



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Normandie



Eis o mais belo e mais luxuoso navio já construído!

Não, você nunca ouviu falar dele, já que a fama pertence ao Titanic, e ficará com este último para sempre devido à tragédia. Mas certamente o Normandie encanta a todos que conhecem a sua história ou já o tenham visto, mesmo que em uma foto apenas.

A época de ouro das viagens navais ainda estava em curso, e os aviões eram meros sonhos quiméricos, muito longe de se tornarem tão importantes quanto hoje. Construído na França durante a grande depressão, o luxuoso transatlântico iria rivalizar com os navios “Queen Elizabeth” e “Queen Mary”, da Cunard, no transporte de passageiros no Atlântico.

O Normandie era extremamente luxuoso e requintado, com uma decoração em estilo Art Déco de fazer inveja a qualquer outro no mundo. Seu público alvo era a elite, e por isso tinha quase metade das suas cabines destinadas à primeira classe. Essas, inclusive, tinham elementos decorativos, conveses de passeio, e até mesmo salas de refeição particulares.

Entre todas as maravilhas que possuía, o elemento mais incrível do navio era o salão de refeições da primeira classe, estrategicamente construído no centro do navio. Ali um espaço contínuo de quase cem metros de comprimento e oito e meio de altura, ladeado por colunas de cristais Lalique, com enormes portas e painéis de bronze, fascinava todos os visitantes. Para conseguir o espaço necessário para o salão, os arquitetos criaram uma solução fascinante, desviando os tubos de exaustão dos motores elétricos, e disfarçando-os entre as colunas do ambiente. Os críticos chegavam a dizer que nem mesmo o Salão de Espelhos de Versailles lhe fazia sombra. Em suma, era um triunfo da arquitetura e engenharia navais.

Mas seu triunfo não seria eterno. Lançado em 1935, o Normandie foi requisitado para a guerra que assolaria a Europa a partir de 1939. Ele foi rebocado e levado para Nova York em 1941, onde sofreria reformas para o transporte das tropas. Durante os trabalhos, entretanto, o luxuoso navio sofreu um incêndio.

Uma enorme quantidade de água foi lançada contra as chamas, mas isso se mostrou um erro fatal. Sem ter por onde escorrer, a água se acumulou na parte superior do navio, e a perda de estabilidade o fez virar. Ele permaneceria no mesmo local durante toda a guerra até ser desmantelado e transformado em sucata em meados da década de 1940.

Com o incêndio o Normandie se foi rapidamente e, mesmo tendo sido muito famoso à época, tornou-se um ilustre desconhecido perdido no passado.

Grande Abraço!

-- Thiago Amorim

Números:

- 314 metros de comprimento e 37 de largura;
- Doze conveses;
- Capacidade para 1972 passageiros, sendo 850 na primeira classe;
- Tripulação de 1345 pessoas;
- Quatrocentos garçons e cento e vinte e cinco chefs serviam o salão de jantar da primeira classe;
- O Normandie fez duas visitas ao Rio de Janeiro em 1938 e 1939;
- O navio tinha 83.000 toneladas (o maior do mundo à época);
  - Foi um recordista de velocidade durante os anos 1930 nas viagens transatlânticas.




Vídeos: 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Encefalite Letárgica!



Resolvi falar sobre isso em um dos posts desse mês porque há muito tempo fiquei morrendo de medo de algo do tipo acontecer comigo. É claro que tudo não passou de uma bobagem minha, de uma agonia hipocondríaca que só podia vir de mim mesmo. Afinal, Vovó Marina (que Deus a tenha!) era extremamente nervosa com qualquer coisa que pudesse deixá-la doente, e acho que herdei essa característica fatídica dela. 

Outro fator para escrever sobre o assunto é o fato de estar de férias e dormir o tempo todo. Não por estar com a doença, mas por puro cansaço mesmo. O semestre na faculdade foi "pesado". Mas vamos ao que interessa:

Imagina que um dia você está com um daqueles sonos gigantescos, que mal te deixam de olhos abertos. Resolve dormir, feliz e tranquilo, com vontade de ficar na cama por séculos. Bem, eu não pediria para dormir por séculos, pois esse desejo pode se realizar...

Trata-se de uma doença pouco conhecida e muito pouco comentada, em parte devido às circunstâncias em que apareceu. Durante e após a Primeira Guerra Mundial, cerca de cinco milhões de pessoas foram infectadas no mundo (e morreram), numa epidemia de proporções cataclísmicas. O fato é que mesmo tendo alcançado tantas pessoas, a gripe espanhola, que matou cerca de vinte milhões “roubou a cena” das epidemias na época, e a doença nem ao menos é citada na história.

A enfermidade chama-se “encefalite letárgica” e, como o próprio nome sugere, deixa o indivíduo cansado, abatido, em estado de cansaço total. A pessoa cai num sono profundo e passa dias, semanas, e até meses dormindo, enquanto a morte não chega. Os infectados não acordam para ir ao banheiro, comer ou tomar banho, apenas permanecem numa espécie de coma profundo. Caso alguém os desperte, eles alimentam-se rapidamente e voltam a dormir.

Não há cura! Simplesmente não se sabe como a doença surge, ou como se desenvolve. Entre todos os infectados, os poucos que conseguiram sobreviver passaram o resto da vida numa espécie de fadiga permanente.

Mas não há motivos para pânico! Afinal, a epidemia veio e foi embora no início do século passado, sem deixar qualquer rastro que seja. Assim, apesar do medo mortal de dormir para sempre (trocadilho infame), estou tranquilo e curtindo muito as férias! Não vão cismar com isso hein! Haha!

Para saber mais:

Breve história de quase tudo - Bill Bryson
A história e suas epidemias - Stefan Cunha Ujvari

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aos amigos!



A quinze dias do fim o cheiro de mofo impregna tudo... O ano, que ao término do que passou era novo, não é mais o mesmo, é apenas um moribundo prestes a desencarnar. E como em tudo que acaba, há o lamento, a nostalgia; não importa o quão ruim o defunto tenha sido.

Diante do novo o repertório se repete. Surgem mais uma vez as expectativas, os desejos, as emoções. A esperança de que tudo será bom, que a vida irá melhorar, que o ano que nasce trará paz e bonança. O momento é de olhar para frente, de conformar-se com o que aconteceu e sonhar com um futuro melhor; mais uma vez.

O eterno ir e vir do tempo nos deixa frustrados, animados, pensativos, cansados, felizes; tocados e emocionados com mais do mesmo. Não fosse a existência da amizade essa perpetuação contínua de flashbacks tiraria o sentido da nossa existência.

Para quem não sabe o perseguido e famoso “sentido da vida” está na maneira como nos relacionamos com os outros. Nos amigos que fazemos; nas experiências que trocamos.

Esse ano foi muito difícil em diversos aspectos. Ganhei algumas coisas, perdi muitas outras. Mas o que importa é o grande número de pessoas que conheci, as amizades que construí, e as que mantive firmes, mesmo com seus percalços e contratempos. 

Assim, agradeço aos meus queridos e amados amigos, aqueles sem os quais não poderia viver; sem os quais não valeria a pena viver. Obrigado por me acompanhar nessa caminhada, por me fazer feliz... 

Grande abraço!

-- Thiago Amorim

sábado, 5 de novembro de 2011

São Longuinho


Estátua de São Longino - Bernini
Localizada em um dos quatro nichos principais
da Basílica de São Pedro, Vaticano
Conhecido em todo o Brasil graças à famosa simpatia dos três pulinhos, São Longuinho é uma das figuras mais emblemáticas do cristianismo. Guardião da “Lança do Destino”, Longino (nome real da figura) tornou-se mártir cristão após afastar-se do exército romano e pregar a palavra de Jesus Cristo.          

Segundo a tradição, um dos centuriões que participaram da crucificação naquele fatídico dia, perfurou o profeta com o objetivo de constatar a sua morte. Após o contato entre a lança e o corpo morto, um líquido foi expelido e caiu diretamente sobre os olhos de Longino. O soldado, que tinha um grave problema de vista, curou-se imediatamente, levando-o a converter-se ali mesmo ao cristianismo.

Nos anos seguintes, Longino viajou o mundo pregando a palavra de Jesus Cristo e contando o milagre que o livrou da cegueira. Sua atitude o transformou em mártir da Igreja, já que devido às suas crenças foi severamente machucado e assassinado. Conta-se que antes de morrer teve orelhas, nariz, dentes e língua arrancados.

Apesar do fim do seu guardião, a lança do destino (sim, a mesma que perfurou Cristo) não foi destruída. Ela ficou perdida durante muitos séculos até chegar às mãos dos cruzados por volta do século XI. A relíquia despertou o interesse de diversos monarcas e dirigentes políticos, devido à lenda de que daria poderes mágicos a quem a possuísse. A existência ou não da lança, entretanto, é muito contestada, e é consenso entre estudiosos que o seu encontro pelos cruzados foi uma fraude.

Hoje o objeto encontra-se sob o poder da Igreja de Roma, guardada junto à estátua do Santo em um dos quatro nichos principais da Basílica de São Pedro. Lá também estão guardados um fragmento da “verdadeira cruz” trazida por Santa Helena, o véu de Verônica, e até pouco tempo as relíquias de Santo André. Todos os objetos permanecem junto às estátuas de seus “santos correspondentes”.

A história da lança acaba aí. O lance dos três pulinhos ninguém sabe de onde surgiu. Por via das dúvidas, quando pedir algo a São Longuinho pague os seus pulinhos! Afinal, ele esteve tão perto do Cristo que deve ter alguma moral com o profeta!

Grande Abraço!

-- Thiago Amorim

Curiosidades:

- Segundo alguns, Hitler esteve muito interessado na Lança do Destino e seus poderes mágicos;

- Outras personalidades envolvidas com o objeto seriam Frederico Barbarossa e Carlos Magno (sérios problemas históricos comprometem a versão de que o segundo entre esses tivesse acesso à relíquia, afinal de contas, o tal encontro do objeto só ocorreu muitos anos após sua morte);

- No filme Constantine a Lança do Destino faz parte essencial da trama.


- Existem outras histórias e outras lanças espalhadas pelo mundo. A que está em poder do Vaticano é apenas uma das consideradas pertencentes ao Santo;

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As outras Brasílias


Há centenas de anos a ideia de haver uma mudança da capital do Brasil para o interior vinha sendo debatida. Após muito tempo de discussão e estudos, finalmente a mudança ocorreu sob o governo de Juscelino Kubistchek. O presidente lançou o concurso para o plano de construção da nova cidade e vários arquitetos e urbanistas propuseram soluções. O plano piloto criado por Lúcio Costa foi o vencedor, mas projetos idealizados por outros arquitetos e urbanistas também se destacaram pela qualidade e inventividade, tendo sido, entretanto, esquecidos; guardados da vista do público.

Assim, com o intuito de apresentar essas “outras Brasílias”, abaixo segue uma sequência de imagens de alguns dos “planos pilotos” que perderam o concurso.  








Aqui a formação de diversos núcleos urbanos,
lembra um pouco as "superquadras" criadas por Lúcio Costa,
mas em escala gigantesca
  


Nesse projeto, é possível ver facilmente a
formação da bandeira do Brasil ao centro



O diferencial desse projeto, está nas gigantescas torres
que teriam centenas de metros de altura
 



-- Thiago Amorim

Sobre a construção de Brasília: 

Para saber mais: