terça-feira, 9 de junho de 2015

O dia do juízo final


Naquele apocalíptico dia, diante dos 130 bilhões de almas que adormeceram e esperaram pacientemente durante milênios, eis que o Rei dos Reis, o Pai do Mundo apareceu diante de todos!
Foi um choque sem precedentes...

Uns viam uma mulher com muitos braços, outros um velho com barba, alguns uma bela senhora negra coberta de diamantes, e houve até quem visse um elefante com um chapéu engraçado. A agonia foi generalizada. Afinal de contas, quem era aquele e o que seria de cada um que ali se encontrava?
Deus-Pai sabia que precisava agradar a todos, e por isso tomou a seguinte decisão: não julgaria ninguém, não condenaria ou salvaria qualquer um dos finados, mas daria de presente para eles tudo aquilo que pregaram e defenderam durante a vida.
Dessa forma, muita gente escapou da condenação eterna pelo simples fato de não acreditar nela. Vejamos os fatos:
Os ateus foram os primeiros a se salvar! Deus-Pai viu bondade e boas ações na maioria daqueles corações, riu da dúvida que despertara em todos, e lhes garantiu passagem ao paraíso sem perguntas ou protestos; foi a única solução que encontrou, pois apesar daquelas pessoas não acreditarem numa vida eterna, haviam pregado o bem para todos. Além disso, as almas eram eternas, deram trabalho para ser fabricadas e Deus-Pai não ia simplesmente jogar seu trabalho, tão bem acabado, fora. Assim, foram salvos!
Boa parte dos Cristãos piedosos receberam guarida também, sendo salvos sem protestos. O problema é que, infelizmente, muitos haviam pregado sobre o fogo eterno para quem pecasse. Como de "pecadores" a Terra está cheia, lá se foram muitos Cristãos para o fogo eterno, afinal, eles pregaram isso durante toda a vida, seria injusto que recebessem algo diferente.
Os Cristãos homofóbicos tiveram um fim terrível. Alguns eram gays enrustidos, e como pregavam a morte e o esquartejamento dos gays durante a época em que viveram, foram jogados no calabouço eterno, sentados no colo de satanás e tomando banho de ácido com enxofre. Nem um deles conseguiu alcançar o paraíso, afinal, buscaram o inferno durante a vida inteira.
E assim seguiram o mesmo caminho todos os religiosos, não importando sua fé ou crença. Quem pregou o bem foi para o paraíso; quem pregou o inferno, lá se instalou rapidinho.
Os últimos a terem seus destinos decididos foram os gays. A galera chegou animada, com confete, purpurina, muita dança e alegria. Deus-Pai achou aquilo fantástico, e resolveu que melhor decisão não poderia ser tomada: sem pestanejar, seguiu atrás do trio com a rapaziada, rumo aos andares mais altos dos céus. Era daquela gente que ele se orgulhava, e por isso para junto de si os carregava.
O dia do juízo final, que não era eterno, logo chegou ao fim. Os anjos, embasbacados, presenciaram uma grande procissão de mão dupla:
Extremistas desceram a ladeira para o andar de baixo e enfrentaram a sua sina; a galera da Parada subiu com confetes e muita purpurina para o andar de cima.
Deus-Pai riu, “e viu que aquilo era bom”...
-- Thiago Amorim