sábado, 7 de março de 2015

O Salão de Âmbar do Palácio de Catarina

Um dos maiores roubos da história da arte, e um dos maiores mistérios da Segunda Guerra Mundial. Que fim teria levado o fantástico salão de âmbar do Palácio de Catarina? A história ainda não nos deu uma resposta...

Catedral de Nossa Senhora de Kazan - São Petersburgo
O Império Russo, a seu tempo, foi um dos mais gloriosos, suntuosos e ricos estados do mundo. Compreendia dimensões continentais, e expandiu-se quase sem fim pela a Ásia e pela Europa, ameaçando e absorvendo estados soberanos por todos os lados. Toda a cobiça imperialista da Rússia rendeu fabulosos tesouros, que se traduziram na construção de imensos palácios, cidades e vilas imperiais.

Entre as mais famosas dessas realizações, destaca-se o conjunto arquitetônico da cidade de São Petersburgo e arredores. Construída por Pedro, o Grande, às margens do Rio Neva e do Mar Báltico, com a intenção de integrar o país à Europa e modernizar o estado russo, a cidade tornou-se a nova capital imperial em detrimento da velha Moscou. O Czar foi bem sucedido e em anos posteriores à sua morte São Petersburgo tornou-se uma das mais importantes e influentes cidades do mundo.
Palácio de Catarina - Tsarkoe Selo, arredores de São Petersburgo
Entre os diversos edifícios construídos nos seus arredores, destaca-se o Palácio de Catarina. Reformado e ampliado pela famosa soberana russa, a edificação em estilo rococó, foi construída com todo o luxo que se podia desejar à época. O resultado aproxima a realidade aos contos de fada: Salões cobertos por telas e pinturas murais de grandes artistas, tetos fabulosos em ouro e gemas preciosas.

Mas o grande atrativo do palácio, apesar de todo o luxo que o englobava, estava na sala de âmbar. Esse aposento tinha paredes cobertas por placas do valioso e raríssimo âmbar, e foi um presente do imperador da Prússia Frederico Guilherme I para o imperador Russo Pedro I. Segundo se conta, Pedro I, em visita oficial à Prússia em 1716, ficou fascinado pela câmara, que era então instalada no palácio de Charlottenburg. Frederico, com vistas a agradar o imperador russo e selar um pacto contra a Suécia, o presenteou com o fabuloso aposento, mandando que o desmontassem e o enviassem, em 18 caixas, para o Palácio de Inverno de São Petersburgo.
Foto do Salão de Âmbar Original - Palácio de Catarina, 1931
Em 1755 o salão, a mando de Catarina, foi trasladado para o palácio de verão em Tsarkoe Selo, e montado em uma sala preparada para recebê-lo. Recebeu adições em anos posteriores, chegando ao século XX com pelo menos 55 metros quadrados de âmbar em diferentes variações de tom e cor, além de generosas porções de gemas preciosas. O salão de âmbar foi utilizado por diferentes Czares como sala particular, de descanso e de reuniões. Sua beleza e qualidade artística lhe rendeu fama por toda a Europa, atraindo olhares cobiçosos de todos os lugares.

Um fato do destino, entretanto, iria causar o desaparecimento desse imenso tesouro. Durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas da Alemanha Nazista chegaram aos arredores de Leningrado (São Petersburgo teve o nome alterado após a revolução de 1917 para homenagear um dos seus líderes, Lênin, e passou a se chamar Leningrado), cercando-a por vários meses. Apesar de não conseguirem invadir a cidade propriamente dita, os nazistas se apoderaram das imensas mansões e palácios dos Czares nas vilas e arredores da cidade. Entre esses palácios, estava o de Catarina, que foi ocupado e teve boa parte dos seus tesouros roubados e enviados de trem para a Alemanha.

             
            Detalhe da restauração em âmbar
Trabalho de restauração do Salão de âmbar

O salão de âmbar, que num primeiro momento da ocupação permaneceu escondido pelos curadores e funcionários do palácio, foi descoberto e imediatamente desmantelado, sendo enviado para a cidade de Konnigsberg. Lá foi remontado em uma espécie de museu dos objetos roubados pelos nazistas.

Com o avançar da guerra e a iminência da derrota, os alemães começaram um trabalho sistemático de destruição de todos os lugares ocupados. Assim, os grandes objetos que não puderam ser levados dos fabulosos palácios russos, foram completamente pilhados, arrasados e incendiados, numa fúria irracional. Foi realmente um momento sombrio e trágico para a história da arte e da arquitetura.

O salão de âmbar, por sua vez, estando em Konigsberg, desapareceu, tornando-se uma incógnita histórica. Afinal, o que teria acontecido com essa fabulosa peça de arte? Há teorias diversas sobre o seu fim. Alguns dizem que tudo foi desmontado e escondido em algum lugar no interior da Alemanha, outros sugerem que tenha sido destruído pelo bombardeio aliado que reduziu a cidade (e o museu) a cinzas, e ainda aqueles que sugerem que o salão foi levado num navio que acabou naufragando no mar Báltico. A teoria mais extrema, entretanto, sugere que Stálin pregou uma peça nos alemães, escondendo a verdadeira sala de âmbar e deixando que os nazistas roubassem uma cópia falsa. Nos últimos setenta anos tem havido uma verdadeira caça ao tesouro pela Europa em busca do salão, embora todas as expedições tenham malogrado. Não é à toa que existam tantas teorias da conspiração a seu respeito.  

Salão de Âmbar após a restauração
Felizmente a história não termina assim. Os palácios de São Petersburgo foram reconstruídos em anos posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de resgatar o passado glorioso da Rússia. O Palácio de Catarina e o Salão de âmbar também foram restaurados graças a fotos e objetos que sobreviveram ao furor nazista. Esse novo salão demorou 25 anos para ser construído e foi inaugurado em 2003. O salão original valeria, em valores atuais, cerca de 150 milhões de dólares.

É um belo tesouro, para um bela caçada, não é mesmo?

-- Thiago Amorim

Para saber mais:

http://www.smithsonianmag.com/history/a-brief-history-of-the-amber-room-160940121/?no-ist